Em busca do pavão misterioso

Photo by Palmarí de Lucena
Em busca do pavão misterioso

Contrastando a hegemonia verde do campo irrigado pelas chuvas, um casarão branco com janelas azuis e pequena capela servindo como contraponto para as trilhas lamacentas esculpidas por veículos e carroças ousando realizar a difícil travessia. Moradores sentados no degrau de uma pequena casa observando o tédio cinzento de um cotidiano sem grandes possibilidades. Único resquício do progresso prometido uma motocicleta pobremente apetrechada, sonhos frustrados pelos homens que viviam bem longe daqui. Estávamos no berço do visionário criador do Pavão Misterioso.

Sentíamo-nos irremediavelmente seduzidos pelos movimentos da gangorra entre o tempo e espaço, como se estivéssemos viajando por terras distantes na maravilha mecânica construída por Edmundo para João Evangelista. Fantasias desafiando o obvio, verdades desaparecendo entre o consciente e o inconsciente. Outro viajante nosso favorito, Peer Gynt, buscara incessantemente a autoafirmação que ele próprio nunca compreendera. Delírios poéticos se transformando em antidoto para seu medo da vida e o amor. Imaginamos um encontro entre os dois viajantes, a lógica do evento sumido no labirinto verde-cinzento do surto imaginário que nos afligira enquanto bailávamos nervosamente pelos deslizes e perigos da travessia pelo lamaçal.

Encontramos um grupo de jovens caminhando cautelosamente nas trilhas alagadas, encostas escorregadias. Versões populares de roupas de personagens de novelas insuficientes para protege-las das intempéries da natureza. Mochilas carregadas de livros e boia fria, chinelos genéricos expondo a capilaridade da pobreza, prelúdio de vidas adultas complicadas. Bela plumagem e pés feios, nação distante dos sonhos de adolescentes marchando aos ruídos alegres de suas vozes quebrando a melancolia dos campos e serras dos seus cotidianos. Ora vivendo sonhos de viagens pelos céus, ora dispensando a donzela Creusa de João Evangelista pela Princesa Frozen de Walt Disney. Qualquer que fosse a escolha, sempre teriam a herança do Pavão Misterioso…

Palmarí H. de Lucena, Membro da União Brasileira de Escritores