Protestos massivos contra a violência policial nos Estados Unidos retornaram as telas de televisão e a mídia global, quebrando o inconfortável hiato de calma causado pelo isolamento social, trazendo o cheiro de suor de volta as ruas. Desta vez, o estopim foi um episódio de brutalidade policial e o assassinato extrajudicial de George Floyd, um cidadão afro-americano, na cidade de Minneapolis. Não surpreendentemente, o Presidente Donald Trump usou a ocasião para rebobinar a mesma velha retórica desagregadora, desta vez denunciando o Antifa, rótulo prolixo de uma militância unida em ações de protesto contra o fascismo, como o novo bicho-papão. Adereço oportuno para provocar um clima de medo, insegurança e normalização de grupos armados.
Tuites de Donald Trump caracterizando de BANDIDOS pessoas protestando contra o racismo, mensagens incentivando a supressão militarizada de manifestações e vangloriando-se sem apresentar nenhuma evidencia, que “anarquistas liderados pelo Antifa foram contidos rapidamente” por forças armadas. Anunciando que classificaria o grupo como uma “organização terrorista”, mesmo sabendo que não tem autoridade legal para enquadrar organizações domesticas nesta categoria. Alegando que a nação estava em risco de ser dominada por “anarquistas profissionais, turbas violentas, incendiários, saqueadores, criminosos, desordeiros e outros”, para justificar uma narrativa de “lei e ordem” e uso das forças armadas para suprimir protestos.
Rumores de invasões de comunidades rurais, majoritariamente brancas, disseminadas em postagens de viés extremista ou através de boatos, sobre ônibus com militantes da Antifa avistadosa caminho da cidade, motivaram a formação de bandos de cidadãos armados à espera de invasões, que nunca se materializaram. Vitória contra inimigos imaginários, carne crua jogada por Trump alimentando a gula das hienas do racismo.
Antifa apareceu pela primeira vez na Alemanha nos anos de 1930, como opositores ao Nazismo. Benito Mussolini caracterizou antifascistas como “degenerados” , indivíduos a serem “removidos de circulação como um doutor faz com uma pessoa infectada”. Medidas repressivas e linguagem inflamatória usadas contra oposição antifascista, tática correntemente replicada por regimes totalitários, ou governantes autoritários no Brasil, Hungria, Polônia e as Filipinas, através do uso de órgãos do Estado para subverter, militarizar e politizar instituições democráticas e aparelhamento de suas bases eleitorais.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores