O renomado escritor israelense Amós Oz, um influente ativista pela paz no conflito entre Israel e Palestina, nos ensinou duas lições importantes: os palestinos reivindicam a Palestina como sua única pátria, assim como os judeus israelenses reivindicam Israel como seu único lar. Ambos têm direitos legítimos de reivindicação. Oz enfatizou que a culpa pelos problemas entre os dois povos deve ser atribuída aos europeus, que os colonizaram e oprimiram. Ele ressaltou que dois filhos de um mesmo pai cruel não necessariamente se amam, refletindo a visão de alguns israelenses e palestinos que veem um no outro a imagem do opressor.
Oz afirmava que estava falando sobre uma casa muito pequena – do tamanho da Dinamarca. Segundo ele, a única pátria dos judeus também é a única pátria dos árabes palestinos, e que a sobrevivência de Israel está inextricavelmente ligada à criação de um estado palestino, uma questão de vida ou morte para o Estado de Israel. Essa visão não é nova, mas o que a torna única é que foi expressa por mais de meio século, entendendo rapidamente que um estado para o povo judeu só pode persistir se os palestinos também tiverem uma terra para chamar de sua.
Apesar de ser dedicado a realizar o sonho de uma pátria judaica, à medida que envelhecia, Oz passou a entender que o Estado de Israel veio com um custo alto e que os palestinos foram os que mais pagaram o preço por sua criação. Em 1967, ele começou a pregar por uma solução de dois estados, um plano de paz que desde então se tornou uma proposta padrão aceita pela ONU e a comunidade internacional, como um todo. Infelizmente, esse plano foi descarrilhado pelo governo extremista de Benjamin Netanyahu, fanáticos religiosos e presença de colonos israelenses em territórios palestinos ocupados militarmente por Israel. Atos terroristas do Hamas podem destruir qualquer possibilidade de paz, depois que os tambores de guerra silenciarem.
Filósofo por formação e romancista por profissão, Oz uma vez ofereceu aos repórteres em Londres uma explicação literária sobre a situação do conflito palestino-israelense, chamando-a de “a situação” em Israel. Ele afirmava que a reconciliação teria que ser chekhoviana, com todos um pouco desapontados, para evitar um resultado shakespeariano, com corpos espalhados pelo palco. Infelizmente, é esse o cenário que temos atualmente em Israel e na Faixa de Gaza, com o mal supremo da agressão, especificamente a agressão de longa data entre israelenses e palestinos.
A questão complexa e intrincada em que nos encontramos no momento, não augura favoravelmente a uma solução duradoura para um conflito que ameaça a paz no Oriente Médio e de provocar consequências inesperadas mundo afora. Existe uma grande possibilidade de que esse conflito se transforme em um banho de sangue monstruoso e seja um verdadeiro balde de água fria nos esforços de estabelecer uma solução justa que atenda aos anseios legítimos dos povos judeus e palestinos.
É necessário buscar um entendimento mútuo entre as partes envolvidas, promovendo o diálogo e a negociação como formas de resolver as diferenças e encontrar um terreno comum. que ambas as partes reconheçam e respeitem os direitos e aspirações do outro, além de considerar os interesses da comunidade internacional, na busca por uma solução pacífica e duradoura. A história nos ensina que uma vitória militar em uma guerra assimétrica, por mais esmagadora que seja, não garante necessariamente a paz.
Palmarí H. de Lucena, membro de União Brasileira de Escritores