O conceito de imunidade de rebanho, ou imunidade coletiva, é baseado em um cálculo utilizado por epidemiologistas e infectologistas, para determinar o percentual de uma população que precisa receber doses de uma vacina, para que todos os indivíduos fiquem protegidos de um vírus ou bactéria, mesmo aqueles que não foram imunizados por algum motivo.
Basear uma decisão fundamental em um simples padrão científico é ignorar a considerável ambiguidade dos dados disponíveis ou da maneira que são interpretados. Entre as razões da imunidade de rebanho ser tão elusiva é porque ninguém ainda determinou qual limiar deve ser aplicado. O CDC dos EUA, chegou à conclusão que “[…] os especialistas ainda não sabem quando a imunidade de rebanho pode ocorrer”, a OMS estima que será alcançada quando 60 a 70% da população for infectada ou vacinada, o Dr Fauci caracterizou a meta como “um alvo em movimento”.
A ideia que uma pandemia termina quando a população alcança imunidade de rebanho, tem precedente histórico, seus defensores na administração de Donald Trump e fiéis seguidores de suas políticas mundo afora, adotaram a postura que o melhor curso a seguir para combater a covid-19, seria permitir que infecções naturais se espalhassem na população. Contrastando a opinião de especialistas em doenças infeciosas a exemplo da recomendação do Dr. Anthony Fauci, que a rota mais humana para alcançar imunidade de rebanho seria seguir as orientações dos cientistas e vacinação massiva.
Como imunidade de rebanho não aparenta ser um objetivo realizável a curto ou médio prazo, especialistas consideram a aceitação de pequenos riscos como uma opção viável para retorno a normalidade, adotando minimização de risco como algo mais plausível, na conjuntura atual. Países com altos percentuais de imunização, estão começando a adotar estratégias realistas para o retorno gradual a normalidade a exemplo dos EUA e Israel, embora mantendo testagem, máscaras, fechamento temporário de negócios, proteção seletiva de grupos vulneráveis e campanhas de educação, preposicionadas como ferramentas contra as ameaças de novos surtos ou variantes do corona vírus.
Quando o governo brasileiro adotou o negacionismo de Donald Trump como uma estratégia político-sanitária, incorremos no risco de nos transformamos no “homme malade” da covid-19, apesar de termos um programa de imunização nacional notável por sua eficiência e profissionalismo. Falhamos em não adotar o único aspecto positivo do programa de Trump, desenvolvimento de novas vacinas e compra antecipada de estoques de imunizantes. A alternativa que nos resta é mobilizar a sociedade civil na busca do equilíbrio entre a carência de recursos e responsabilidade cidadã, tomando as rédeas do nosso destino comum, diante da incompetência e a atitude de negligência benéfica do Poder Executivo Federal.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores