Drogas em domicilio

Destruição de plantações e interdição de embarques de heroína e cocaína, a estratégia antidrogas dos Estados Unidos por mais de quatro décadas. Guerra incessante contra adversários não convencionais, em lugares distantes, muitas vezes invisíveis. Interceptando ou causando desarticulação de carregamentos de substâncias letais que envenenavam as veias expostas pela turbulência social e o achaque prevalecente nas comunidades excluídas e centros urbanos. Alienação, desespero e exclusão. Criando novas Gothams, sem criar novos super-heróis.

Mudança importante está ocorrendo: o problema esta migrando das substâncias ilegais para o uso de analgésicos e psicotrópicos receitados por médicos. O grande dilema não é se a política de intercepção teve sucesso, mas como enfrentar o desafio apresentado pelo aumento exponencial no abuso de drogas lícitas, que hoje são as mais prováveis de levar pessoas às salas de emergência. Investigações de uso ilegal de drogas legais e criminalização de programas de tratamento psicoterápico são vistas hoje como peças fundamentais no combate ao uso das drogas.Estamos vivendo com o inimigo dentro das nossas próprias casas, escondido nas farmacinhas e nas mesas de cabeceira.

Pesquisa nos Estados Unidos em 2010 identificou 1,5 milhões de usuários de cocaína e surpreendentemente, quase cinco vezes mais usuários de psicoterápicos. Mortes por overdose em 2008 somaram 36.450, das quais mais de 60% foram causadas por alguma droga obtida legalmente, excedendo o número de mortes causadas por todas as substâncias ilícitas.

Abuso de drogas legais ou ilegais deve ser encarado de uma forma multidisciplinar abrangendo todas as facetas do problema. Combate à violência e corrupção oficial; criação de juizados especializados em crimes de menor poder ofensivo, praticados por drogadictos; investimentos em programas de prevenção e tratamento de usuários e educação continuada de médicos, devem complementar esforços de interdição. Anúncios periódicos sobre capturas de carregamentos só servem para criar a falsa impressão de que o problema está sendo resolvido. A chamada “ guerra contra as drogas “ sobreviveu a todas as outras guerras, sem conquistar a vitória tantas vezes anunciada. Bilhões de dólares foram gastos, sem obter os resultados esperados. É hora de mudar a estratégia.

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores