Dona Inês: lendas, resistência e beleza das serras

Photo by Palmarí H. de Lucena
Dona Inês: lendas, resistência e beleza das serras

A cidade de Dona Inês, aninhada nas encostas de uma serra, é um verdadeiro testemunho da majestade singular da natureza. Nesse cenário deslumbrante, emergem figuras femininas como Dona Inês e a pequena Dulce, cujas histórias ecoam através dos tempos, deixando uma marca indelével na memória coletiva.

Dona Inês, cujo nome batiza a cidade paraibana, está envolta em mistério desde sua aparição ao lado de um imponente lajedo por volta de 1800. Sua presença elegante e enigmática permanece como um legado duradouro, mesmo que seu destino permaneça envolto em mistério.

Já Dulce, uma criança cujo destino foi marcado pela tragédia durante uma grande seca, é lembrada pelo suposto milagre que ocorreu após sua morte, quando água começou a fluir do alto da serra, levando à construção da capela Cruz da Menina.

Além dessas figuras, a história da cidade também se entrelaça com a Comunidade Quilombola Cruz da Menina, cujas raízes remontam a tempos de desafios e superações. Surgida durante o período da escravidão, a comunidade representa a busca por refúgio e liberdade, preservando uma rica narrativa cultural transmitida de geração em geração. O artesão Sérgio Teófilo é um exemplo vivo dessa riqueza cultural, suas esculturas de pássaros em madeira, esculpidas a partir de troncos secos, representam uma fusão inspiradora entre a natureza e o imaginário do artista.

A Pedreira de Dona Inês é conhecida principalmente por sua relevância na extração de minerais, especialmente calcário, usado na produção de cimento, construção civil, agricultura e outras aplicações industriais. Desempenhando um papel significativo na economia local, a pedreira fornece matéria-prima para diversas indústrias e gera empregos na região. No entanto, é crucial destacar que a atividade de mineração também pode acarretar impactos ambientais e sociais, como a alteração da paisagem e a poluição do ar e da água.

Na rusticidade da pedreira, Tarcísio Play, o grafiteiro, introduz uma aura de leveza. O Memorial Lajedo da Serra, situado a céu aberto, é uma obra autoral que ganha vida pelas mãos do artista, sem auxílio de guindastes ou maquinário pesado – uma manifestação pura de arte e habilidade. Inspirado no folclore e na cultura local, especificamente no cordel “Dona Inês, Filha de uma Paixão” do cordelista Mariano Ferreira da Costa, este monumento não apenas celebra a história e as tradições da região, mas também personifica a conexão entre passado e presente, entre a solidez da rocha e a fluidez da expressão artística.

Dessa forma, Dona Inês e sua região destacam-se não apenas pela beleza natural, mas também pela força e resiliência de suas histórias e tradições. Ipês floridos, cânions imponentes e pinturas rupestres inspiram e encantam aqueles que buscam na história uma promessa de beleza, comunhão com a natureza e imersão nas lendas e tradições orais que ecoam pelo seio da terra, mesmo diante das agruras da natureza e da voracidade da atividade mineradora humana.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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