Nas encostas íngremes de Dona Inês, a pedreira surge como um símbolo de imponência e história. Embora hoje sua relevância seja principalmente econômica, com a extração de granito, o local guarda um passado que transcende o valor comercial. Antes de ser explorada, a pedreira abrigava poças d’água que permitiam a sobrevivência de famílias em uma terra árida, proporcionando um sustento vital em pequenos espaços de cultivo.

Com o tempo, a pedreira passou a representar progresso, com suas pedras sendo transformadas em material de construção. No entanto, o que muitos visitantes desconhecem é que, por trás dessas formações rochosas, há uma narrativa mais profunda, que liga o lugar à luta por liberdade.

As trilhas que contornam a pedreira não conduzem apenas ao seu cume, mas a memórias de resistência e cultura. Foi nessas mesmas encostas que, séculos atrás, o quilombo de Cruz da Menina floresceu, oferecendo refúgio para aqueles que fugiam da escravidão. As lendas locais relatam a presença de espíritos protetores que ajudaram os quilombolas a sobreviver às ameaças constantes das forças coloniais.

As pedras, que hoje sustentam a modernidade, foram testemunhas silenciosas de uma época em que abrigavam esperança e luta. A cada fissura, a cada rocha, há uma lembrança de uma história marcada pela busca por autonomia e pela resistência cultural.

O quilombo, por sua vez, permanece vivo nas memórias das comunidades que mantêm suas tradições até hoje. As vozes que ecoavam pelos vales, acompanhadas pelos tambores e cânticos, ainda reverberam na paisagem. Suas histórias, passadas de geração em geração, preservam a essência de um povo que nunca deixou de lutar por liberdade e dignidade.

Caminhar por essa região é mais do que apreciar a beleza natural. É uma viagem no tempo, onde passado e presente se entrelaçam em cada passo. As trilhas que conduzem pela pedreira levam o visitante a descobrir não apenas uma vista deslumbrante, mas também a profundidade das lendas e a resistência que marcaram essa terra.

Dona Inês, com suas paisagens impressionantes e seu legado cultural, oferece uma experiência que vai além do turismo comum. A valorização desse patrimônio, que une a história da pedreira ao quilombo, tem o potencial de impulsionar o turismo cultural na cidade, preservando as memórias de resistência e conectando-as ao futuro.

Essa herança, que conta uma história de luta, liberdade e progresso, também se transforma em uma força motriz para o desenvolvimento sustentável. Ao reconhecer o valor dessas memórias e compartilhá-las com os visitantes, Dona Inês pode não apenas resgatar sua identidade cultural, mas também abrir novas portas para o crescimento econômico, sempre respeitando as raízes que sustentam o seu progresso.

Palmarí H. de Lucena, “Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas”