Quatro jornalistas do Washington Post analisaram recentemente os números de pesquisa de Donald Trump para a eleição presidencial de 2024, entre todos os eleitores. Concluíram que, embora a maioria dos americanos entenda que Trump possa haver cometido crimes, sua mensagem constante de vitimização foi absorvida pelos eleitores republicanos. Essa realidade contraditória persiste, em parte, porque muitos eleitores testemunharam suas ações ilegais durante seu mandato.
Ao analisar teorias como a do rótulo e da construção social do crime, tem-se que explicar os processos de estigmatização criminal em meio às interpretações divergentes da situação de Trump, no que diz respeito a 91 acusações de crimes, nos 4 processos nos quais agora é réu. Isso ocorre porque parte da sociedade tenta controlar ou mesmo ofuscar comportamentos desviantes, prejudiciais e ilegais.
O Partido Republicano, principalmente a extrema direita do partido, está em negação coletiva sobre as ações ilegais de Trump. Preferem difamar a oposição democrática e culpar um “estado profundo”; imaginário e os departamentos judiciais federais e estaduais reais por instrumentalizarem as engrenagens discriminatórias da aplicação da lei contra o ex-presidente.
A vitimização de Trump, no entanto, está enfraquecendo à medida que seus cúmplices começam a se declarar culpados. Existe a possibilidade de que se nas acusações criminais se tornam condenações criminais, suas defesas políticas de perseguição e martírio poderão causar uma visível redução de sua influência sobre os eleitores republicanos.
Existem várias razões pelas quais os republicanos se identificam principalmente com as fraquezas e a vitimização de Trump, em vez de vê-lo como um fraudador ou criminoso. Os cientistas políticos apontam que esses eleitores se identificam com Trump por interesse próprio. Os psicólogos argumentam que essa identificação está enraizada em suas necessidades emocionais, no entanto, essas análises não abordam as respostas contraditórias dos eleitores republicanos que compartilham os mesmos interesses ou necessidades.
Por outro lado, sociólogos e criminologistas discutem essas questões em termos de desviantes primários e desviantes secundários. Os desviantes primários violam normas, costumes ou leis, mas não são estigmatizados pelo grupo social ou por tribunais como criminosos. Trump ainda é visto como um desviante primário para a maioria dos republicanos. Os desviantes secundários, por outro lado, são estigmatizados como criminosos por grupos sociais ou tribunais. A partir do momento em que Trump é rotulado oficialmente como criminoso por um processo judicial, é mais provável que seu apoio diminua entre os republicanos e o eleitorado, como um todo.
Trump entende intuitivamente esse fenômeno e sabe que seu apoio político depende de não ser condenado criminalmente. Ele tenta atrasar os julgamentos criminais até depois das eleições de 2024, mas isso pode levar ao seu fracasso político. Portanto, é importante que a justiça seja feita e que Trump enfrente as consequências de suas ações ilegais, assim como qualquer outro político passível de ser investigado e julgado por crimes cometidos durante seu mandato. Em uma democracia verdadeira, não há espaço para dualidade na justiça, pois ela deve ser única e imparcial para todos os cidadãos.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores