Dilema da violencia escolar

Dilema da violencia escolar

Grande paradoxo dos Estados Unidos, o país nunca investiu tanto em medidas para aumentar a segurança escolar, mesmo assim nunca testemunharam tantos massacres em escolas e universidades, como nos últimos anos. Desta contradição, podem surgir respostas para uma crescente ocorrência de episódios violentos nas escolas brasileiras, fenômeno que até então é visto como algo estrangeiro, embebido na cultura americana.  Afirmamos por muito tempo, com uma boa dose de chauvinismo, que eles não perdurariam no Brasil, tratados como algo esporádico nos confins de escolas, sujeitos a intervenções pontuais de forças de segurança.

Sete episódios violentos aconteceram em escolas brasileiras desde setembro de 2022, os mais recentes em Blumenau (SC), quando um homem invadiu uma creche e matou 4 criancinhas com uma machadinha e na cidade de São Paulo (SP), onde um estudante de treze anos assassinou uma professora e feriu outras cinco pessoas dentro da escola. Reagindo prontamente, o Governo Federal anunciou a liberação de R$150 milhões do Fundo de Segurança Pública para ampliar a atuação das rondas escolares – grupos de policiais militares ou guardas civis que farão policiamento ostensivo nas portas e nos arredores de unidades escolares e creches.

A partir do episódio de violência escolar no Columbine High School (Colorado), em 1999, aconteceram ao menos 377 ataques em escolas americanas, segundo o jornal The Washington Post, culminando em 47 ocorrências em 2022.  Contraditoriamente, seguem em alta apesar de um investimento contínuo bilionário, que em 2021, alcançou a cifra recorde de US$ 3,1 bilhões, para compra de sistemas, serviços de vigilância e proteção. Aplicação desses recursos é visível no cotidiano da maioria dos estudantes, câmeras, interfones e até detectores de metais se tornaram artigos comuns nas escolas.

Aumento de medidas de segurança na escola, podem resultar em consequências positivas de lidar com o problema de violência escolar, embora ainda longe de serem suficientes para prevenir os ataques. Segundo o Diretor do Centro Nacional de Segurança Escolar, “Não há hoje grandes evidências científicas para apoiar a ideia de que essas medidas tenham impacto definitivo na prevenção de massacres. A gente não desencoraja a adoção delas – até porque costumam ter impacto positivo em outras áreas da vida escolar, mas relembra à comunidade que esse não pode ser o único caminho para tentar combater o problema dos ataques”.

Policiamento escolar estilo americano, pode transformar-se em uma realidade mais comum no Brasil, no entretanto, estudos sugerem que a presença de agentes armados possa desencorajar brigas entre grupos de estudantes, o impacto da medida sobre ocorrência e a letalidade de massacres é discutível. Torna-se necessário, portanto, uma avaliação mais profunda sobre a eficácia e os limites deste tipo de abordagem.

Treinamento de pessoal na formação de “equipes de avaliação de ameaças”, grupos escolares multidisciplinares responsáveis por receber as denúncias, verificar a veracidade delas e criar planos para mitigar a violência, são usados com sucesso em vários estados americanos, como mecanismos para prevenção e mediação de conflitos nos confins das escolas. Talvez este seja o caminho de maior custo-benefício e eficácia no enfrentamento do problema, com envolvimento de todas as partes interessadas.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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