Elite branca, o mais novo bicho papão da política brasileira. Presenciamos mais uma vez a caracterização negativa de um grupo de brasileiros, hostis a certos programas ou gastos do governo e as inconsistências nas construções eleitorais dos partidários da base governamental. Incapazes de entender o dilema do povo brasileiro na conjuntura atual: se estamos tão felizes, por que nos sentimos tão inseguros? Dilema evidenciado pela aparente precariedade da inteligência emocional dos jogadores da seleção brasileira, que transformaram um momento de patriotismo verde e amarelo em catarse coletiva, um ritual de purificação e auto-afirmação.
Listas de inimigos ou demonização de críticos nos remetem às perseguições da ditadura militar contra pessoas taxadas de subversivas. Campanhas do medo, conspiração da mídia, ataques a jornalistas que expõem a corrupção e incompetência do setor público, e a regulamentação da mídia. Conselhos populares criados para confrontar o Congresso Nacional são a mais recente tentativa, uma tampa na chaleira do descontentamento. Táticas perigosamente autoritárias, com patrulhamento ideológico até acusações de falta de patriotismo, armas outrora usadas para desqualificar críticos e dissidentes. Simulando uma luta de classe virtual — e perigosamente possível, entre progressistas e reacionários, o equivalente moral da épica batalha entre Gog e Magog. Ninguém segura este país, lembram? Viés autoritário do nouveau chavismo brasileiro: o Supremo Tribunal Federal é caracterizado como politizado e injusto, seu presidente hostilizado e ridicularizado; o Congresso Nacional uma instituição incompetente, volúvel e corrupta, dependendo da filiação partidária, que deve ser subestimada ou substituída por conselhos populares. Borrando as linhas de separação de poderes essencial para a viabilização de uma democracia participativa e sustentável.
Surpreendidos pela eclosão e veemência das manifestações anti-governamentais, a elite política, da direita ou da esquerda, mostrando-se incapaz de encontrar soluções fora da órbita partidária ou dos conchavos políticos. Descontentamento e desconfiança continuam crescendo contra as nossas instituições, incluindo a seleção nacional. Era de gritos irados e impropérios contra a elite política, que culpa a “elite branca” pelos seus vexames. Finamente temos os ingredientes de uma luta de classe. E só Deus sabe o que o futuro nos trará. Será que ele é ainda brasileiro?
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores