Em outubro de 2020, o ex-chanceler brasileiro afirmou que se a atuação da diplomacia do país, “[…] faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. Política extremista que sobrevive sua ingloriosa saída do Ministério de Relações Exteriores. O Presidente continua fomentando o autoisolamento do Brasil do resto do mundo, refém de um cabal de governantes autoritários de tendência ditatorial. Dedicando-se exclusivamente a uma agenda eleitoreira, acompanhado de um coro grego de líderes e partidos de matizes antidemocráticas, para manter-se no poder, relegando a ministros, assessores ou familiares a função de representar o País no Exterior.
Recentes exemplos da situação atípica do Brasil, o Presidente possivelmente na participará do Fórum Econômico de Davos, titubeou ao confirmar participação à principal reunião de chefes de estado do continente, a Cúpula das Américas, sua agenda de visitas bilaterais é quase inexistente no que diz respeito a democracias ocidentais ou mesmo principais vizinhos sul-americanos, não conseguindo um encontro sequer com o Presidente Joseph Biden e ainda sendo ignorado pelo G7, liderado pela Alemanha. Missões oficiais do primeiro mandatário, seus familiares e acólitos são, em grande parte, veículos para fortalecer uma “internacional direitista”, com líderes ou países de pouca relevância aos interesses multilaterais ou reputação do País no cenário internacional.
Diplomatas brasileiros são frequentemente obrigados a funcionar como “bombeiros” em situações vexatórias, provocadas por declarações desastrosas ou erros de cálculo do Presidente ou seus familiares. Encontros bilaterais durante a Assembleia Geral da ONU ou cúpulas multilaterais têm sido mínimos, não apenas pela falta de interesse de contrapartes estrangeiros, como também devido a aparente postura diplomática de evitar agendas diplomáticas, que exijam preparação substantiva ou aumentem o risco de erros sérios, devido a comentários inadequados, linguagem chula ou ofensiva sobre seus países, familiares, características étnicas ou culturais.
Embora ausente do cenário internacional, Bolsonaro continua controlando nossa política externa nos bastidores, através do sequestro ideológico por uma diplomacia paralela construída por facções mais conservadoras dentro e fora do Governo, especialmente pastores evangélicos munidos de passaportes diplomáticos, que mantêm um aperto firme na fomentação de políticas públicas internacionais de questionável laicidade, aversa aos direitos da mulher, mantendo vivo o legado desagregador de Donald Trump, propagando os interesses mais obtusos e preconceituosos da chamada direita cristã.
Principais proponentes de mover o relógio dos direitos da mulher no sentido anti-horário, são pessoas ligadas a igrejas evangélicas, como no caso da ex-Ministra da Família, Mulheres e Direitos Humanos, que colocou como objetivo do Ministério, expansão do lobby internacional contra o aborto, ampliando a aliança com governos ultraconservadores, formado por líderes autoritários de regimes aversos ao estado laico democrático como a Rússia, Arabia Saudita, Emirado de Barém, Hungria e Turquia.
Declaração teocrática da então pastora em 2016, revela a verdadeira missão que a trouxe para o Governo, “Está na hora da igreja dizer à nação a que viemos…É hora de a igreja governar”…É preciso defender nossa Constituição contra tentativas de dessecularização, emasculação ou a eventual subversão das instituições democráticas.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores