Desqualificando um demagogo

New York Magazine
Desqualificando um demagogo

Após derrotas em desastrosas guerras e a corrupção desenfreada de demagogos, a antiga Atenas estabeleceu uma lei permitindo que seus cidadãos votassem, escrevendo em um pequeno pedaço de cerâmica o nome daquele a ser condenado ao ostracismo, exílio por 10 anos para qualquer político violando princípios democráticos. Impeachment em tempos modernos tornou-se o equivalente moral ao ostracismo da antiguidade.

O Senado Americano deve assumir a árdua tarefa de decidir se condena e desqualifica o ex-presidente Trump, impichado pela Câmara dos Deputados. Senadores devem votar para condena-lo, mesmo estando fora do mandato e após voltar a ser um cidadão comum. Desqualificação é o objetivo principal, ou seja, cassar seus direitos de exercer cargos públicos em caráter definitivo, a única maneira de preservar a democracia de uma forma consistente, com a história e os princípios da Constituiçao.

Desqualificação não deve ser visto como um ato partidário ou simplesmente um acerto de contas, entre facções politicas. O processo na verdade, é considerado como o fulcro que sustenta as instituições democráticas e o arcabouço teórico da Constituiçao. Antigas observações sobre o cerne da fragilidade da democracia, demonstraram que é essencial para o cumprimento constitucional, sua defesa contra um adversário letal, um demagogo doméstico como Donald Trump.      

O estadista norte-americano Alexander Hamilton, um dos fundadores dos Estados Unidos, alertou sobre “aqueles homens que suprimiram a liberdade das repúblicas, na sua maioria conquistando o povo obsequiosamente, começando como demagogos e depois como tiranos”. Hamilton insistiu em estabelecer a concepção de pesos e contras pesos, como proteção contra “o despotismo militar de um demagogo vitorioso”.

O Artigo I da Constituiçao Americana não só permite ao Congresso de impichar o presidente por uma maioria de votos na Câmara de Deputados e de condená-lo por 2/3 dos votos do Senado, como também dá ao Senado oportunidade de impor uma punição adicional, mais severa, por voto majoritário: “desqualificação de exercer ou usufruir de qualquer Cargo de Honra, Confiança ou Lucro nos Estados Unidos.  Na opção drástica de remover o presidente impichado e bani-lo da vida politica formal, os Autores da Constituiçao seguiram o modelo antigo, quando adotaram uma solução estrutural para a remoção de um demagogo, transformando-se em tirano.

Desqualificação não é simplesmente colocar Donald Trump no retrovisor da história, ele deve ser removido como um tumor espalhando-se incontrolavelmente no organismo da política. Os Estados Unidos estão sob ataque de um inimigo, que os Fundadores da República temiam, um demagogo no leme da nação. Deve-se portanto, inocular a democracia com o remédio mais forte e adequado para salvaguardar suas instituições.

Palmarí H de Lucena, membro da Uniao Brasileira de Escritores

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