Ao revisitar as crônicas do passado de Lucena, somos levados de volta ao século XVI, quando os Frades de São Bento receberam uma sesmaria às margens do Rio Miriri, marco inicial de uma história rica e extensa. Desde então, exploradores europeus, como os holandeses, disputaram com fervor o domínio destas terras, deixando cicatrizes profundas no solo e na memória da região.
Entre os cenários de conflito e conquista, a Igreja de Nossa Senhora da Guia se destaca como testemunho do esplendor barroco que permeia a história local. Embora suas torres nunca tenham sido concluídas, o altar-mor esculpido em pedra e suas arcadas frontais evocam um tempo de grandeza artística e espiritual. Este templo é um ícone da herança de Lucena, embora não esteja sozinho nessa relevância.
As ruínas da Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, envoltas em uma majestosa gameleira que sustenta suas paredes remanescentes, narram uma história de fé e resiliência. Construída no século XVIII, essa estrutura carrega o peso da arquitetura colonial e suas lembranças são esculpidas em cada detalhe da pedra.
Contudo, Lucena não se limita a ser um museu ao ar livre de sua história. Com uma costa que se estende por 15 km, em praias encantadoras como Costinha, Fagundes, Gameleira, Ponta de Lucena, Camaçari e Bonsucesso, a cidade oferece um espetáculo natural. As areias, ora claras, ora escuras, contrastam ao longo do litoral, compondo uma paisagem de rara beleza. Para os amantes da natureza e os mais aventureiros, as trilhas ecológicas que serpenteiam pela Mata Atlântica e margeiam lagoas de águas cristalinas são um convite irresistível a uma imersão no verde.
E, se a natureza em Lucena é impressionante, sua cultura é ainda mais vibrante. Um exemplo claro são as “Cambindas Brilhantes”, um grupo de pescadores que, há gerações, se veste de mulher nas festividades, mantendo viva uma tradição cultural única. Suas alas em azul e encarnado, juntamente com a boneca Leopoldina, dão vida às ruas e preservam o que há de mais autêntico no folclore local.
A história de Lucena se funde harmoniosamente com sua cultura, fé e paisagem natural, formando um mosaico vibrante que conecta passado e presente. O poeta Américo Falcão, natural dessa terra, capturou em versos a alma de Lucena, imortalizando em suas palavras a brisa que sopra nas praias e o eco das tradições que resistem ao tempo. “Nas manhãs de Lucena, o sol beija as águas serenas / E a brisa que traz memórias revive as lendas amenas”, escreveu ele, sintetizando a essência deste lugar encantador.
Assim, inspirados por sua poesia, somos convidados a explorar essa tapeçaria rica de história e tradição, onde cada esquina revela um novo tesouro, e onde a grandiosidade de Lucena se revela tanto em sua simplicidade quanto em sua profundidade cultural. Caminhar por suas trilhas, ouvir suas histórias e sentir o pulsar de sua cultura é vivenciar o que Lucena tem de mais belo e atemporal.
Palmari H. de Lucena, “Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas”