Desastres esperando acontecer

Desastres esperando acontecer

Dizíamos no Brasil que éramos abençoados por Deus, por não termos uma geografia passiva à ocorrência de calamidades naturais. Encarávamos desastres provocados por degradação ambiental ou ações irresponsáveis por seres humanos, com uma atitude de laissez-faire e intervenções assistencialistas pontuais patrocinados por interesses políticos. Construção de açudes ou perfuração de poços que agravavam, em vez de mitigar os efeitos nocivos de enchentes ou secas, criaram uma indústria de obras emergenciais e procedimentos licitatórios propensos a práticas corruptas.

Desastres naturais como terremotos, enchentes, raios, são considerados como “Atos de Deus” por seguradoras, órgãos da defesa civil e a comunidade internacional. Independentemente da espontaneidade e das forças sobre-humanas no cerne destes eventos, a falta de planejamento expõe fissuras organizacionais e consequentes atos de corrupção, incompetência ou impunidade de agentes públicos ou da classe empresarial. O principio de “não faça da sua falta de planejamento a minha urgência”, é usado frequentemente para exculpar e justificar o empurra-empurra entre partes de outra forma responsáveis, por exercer a devida diligência na prevenção de desastres.

As tragédias que aconteceram no Brasil nas ultimas semanas, provocaram questionamentos sobre as razões porque estes acidentes estejam ocorrendo mais amiúde e com consequências mais devastadores, em termos do custo humano e dano material. A falta de um forte princípio de responsabilidade, somado à sensação de impunidade, é possivelmente o que prejudica a resolução de questões práticas, como manutenção, prevenção e fiscalização, que poderiam evitar a morte de milhares de brasileiros.

Ausência de compromisso ético e incompetência de agentes públicos, além de condenar comunidades pobres a viver constantemente em curso de colisão com um iminente desastre humano ou natural, também impedem que a democracia floresça e estenda sua sombra protetora a todos cidadãos, sem distinção, preconceito ou exclusão.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores