Desalento e insatisfação do povo

Vivemos o mais longo momento democrático na história da república, paradoxalmente também vivemos um período de intensa descrença e insatisfação com as instituições do Estado Democrático de Direito. O purgante indigesto do cinismo e desonestidade da classe política não auguram por soluções duradouras para a crise em que nos encontramos como um povo. Optamos pela estrada da indiferença, mantendo uma respeitosa distância da desrespeitosa corrupção esfarrapando as entranhas do país.

Somos hoje uma sociedade civil incapaz de transformar-se em um poderoso instrumento de pressão, forçando o Poder Público a enfrentar seriamente a urgência de reformas políticas e de fazer uma assepsia geral das práticas de corporativismo, fisiologismo político e promiscuidade funcional beneficiando e corrompendo o mandato popular de membros do Congresso, ocupando cargos de confiança no Poder Executivo.

Oficiais eleitos e governantes acusados ou suspeitos de crimes contra o Erário e as instituições democráticas, que eles juraram defender, raramente apresentam evidência crível substanciando acusações de que são vítimas de perseguição judicial, artimanhas político-partidárias ou “pegadinhas” policiais. Argumentando também que o crime de “caixa 2”, deslizes éticos e conflito de interesses são modos de fazer política no Brasil, corrupção que nem é um fenômeno atual, nem ausente do nosso modelo de governança.

Revelações da Lava Jato demonstram claramente que quando um candidato a um mandato eletivo alcança o poder, seja pela força de manobras espúrias ou por concessão espontânea, esta pessoa passa a ter prerrogativas superiores as da maioria da população, sendo assim, quem deseja uma vantagem ilegal, um beneficio indevido ou uma forma de captar recursos financeiros de forma ilícita, corrompe ou é corrompido. Lamentavelmente muitos oficiais eleitos se entregaram de todo a tais práticas, em detrimento dos interesses dos eleitores e comunidades que os elegeram para representa-los na esfera pública e diante das mais altas instituições da República.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores