Embora seja comum desconfiar de diálogos e comissões parlamentares que buscam um consenso político mínimo, ignorando diferenças ideológicas, há motivos válidos para esse ceticismo. A presença generalizada de partidarismo negativo e desconfiança mútua na cultura política atual dificulta a discussão efetiva dos problemas mais complexos e urgentes enfrentados pela sociedade. Além disso, a dificuldade em categorizar ideologicamente certos desafios, como desconexão social, solidão, impactos das mídias sociais e dependência de drogas, torna-os ainda mais difíceis de abordar de maneira abrangente e eficaz.
Apesar das diferentes orientações políticas e ideológicas, e até mesmo da existência de partidos políticos sem uma ideologia clara ou de um programa político consistente, é crucial reconhecer a necessidade de cooperação para enfrentar os desafios sociais. Infelizmente, não há indícios claros de que tanto a esquerda quanto a direita estejam repensando a política em torno de questões comunitárias ou buscando compreender as insatisfações pessoais profundas, que contribuem para o descompasso entre as conquistas nacionais e a infelicidade expressada por muitos brasileiros.
A preocupação em responder aos danos causados pelos celulares e mídias sociais nas crianças e adolescentes é válida, mas também é essencial reconhecer a importância de abordar os aspectos emocionais e sociais subjacentes que afetam o bem-estar da sociedade como um todo. Essa abordagem holística é crucial para garantir que as políticas públicas adotadas atinjam não apenas os sintomas, mas também as raízes profundas dessas questões. Isso sugere uma preocupação compartilhada de que o país esteja enfrentando uma desintegração emocional e espiritual, que transcende as divisões políticas tradicionais.
Os defensores dessa possível nova abordagem ressaltam a diferença entre este esforço e os debates partidários tradicionais. Essa iniciativa não visa a uma conversa morna ou moderada, mas sim a provocar uma discussão sincera entre a direita e a esquerda sobre as razões por trás do mal-estar de muitos brasileiros e sobre as medidas significativas necessárias para corrigir essa situação. Essa abordagem direta e incisiva é crucial para enfrentar os desafios reais que afetam nossa sociedade e buscar soluções eficazes e impactantes.
O desafio de conectar a desintegração social às injustiças econômicas destaca a importância de uma abordagem holística. A disparidade socioeconômica entre brasileiros é um tema transversal e complexo que merece atenção e discussão. Enfrentar essa disparidade requer políticas e iniciativas abrangentes, que abordem suas raízes profundas. Isso inclui investimentos em educação de qualidade, programas de assistência social, reformas econômicas para promover o crescimento inclusivo, combate à corrupção e discriminação, além de medidas para reduzir as disparidades regionais. A busca por uma sociedade mais justa e equitativa deve ser uma prioridade para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar de todos os brasileiros.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores