Ao longo de décadas, temos testemunhado impotentes a transformação do centro comercial e cultural de nossa cidade, de vibrante para uma região deprimente, infestada pelo crime e com pouca atividade comercial. Os edifícios estão vazios porque os negócios de varejo não conseguem se sustentar, muitas famílias mudaram-se para o litoral, o tráfego de pedestres é escasso, a segurança pessoal é uma preocupação constante, o uso e venda de drogas ocorrem abertamente, as ruas estão sujas e grupos de pessoas sem-teto se espalham por toda parte.
Chamar o 190 para relatar um arrombamento em andamento, uma invasão de prédio ou o uso ou venda de drogas em público não resulta em resposta policial, uma situação profundamente frustrante. Após inúmeras chamadas sem sucesso, muitos dos poucos residentes ou comerciantes desistem de pedir ajuda, da aplicação da lei, que nunca chega. Os perpetradores desses crimes sabem disso e agem com total impunidade.
Muitos comércios sofrem múltiplos furtos diários. Os ladrões adentram a loja com ousadia, pegam o que querem e saem impunemente. Quando os funcionários tentam intervir, brigas são frequentes, e os gerentes temem pela segurança de todos, pois não há como saber se os ladrões estão armados, sob efeito de drogas ou contagiosos. Além dos riscos pessoais, os prejuízos financeiros podem ser significativos, levando eventualmente ao fechamento do negócio.
Presenciamos cenas frequentes de ladrões roubando fios e tubos de cobre. Esses criminosos se escondem entre a população sem-teto, agindo com total impunidade. Mesmo após a captura de um infrator, a falta de ação legal permite seu retorno às atividades criminosas. Proprietários são obrigados a manter imóveis seguros, bloqueando portas e janelas e reforçando a segurança regularmente, e eventualmente enfrentam a demolição devido à inadequação habitacional ou comercial, inviabilizados devido a falhas de políticas publicas que contribuíram para o problema.
A falta de abordagem individualizada à população sem-teto resultou em consequências devastadoras para certas áreas da cidade. A magnitude e a gravidade do problema da população sem-teto não devem nos impedir de aplicar e reforçar as leis de propriedade em nossos bairros locais. Pelo contrário, a inação apenas levará à destruição das comunidades restantes. As políticas devem considerar não apenas as necessidades percebidas dos sem-teto, mas também as da comunidade em geral.
Propostas e projetos implantados durante períodos pré-eleitorais alimentam o ciclo de restauração e destruição que ocorre no Centro Histórico e outras áreas da cidade por décadas. O foco em financiar ou promover renúncia fiscal para proprietários de imóveis abandonados, na sua grande maioria herdeiros, cria a falsa impressão de que imóveis restaurados é progresso assegurado, o que historicamente não tem sido o caso. Eventualmente logradouros, monumentos e espaços públicos são abandonados ou caem no esquecimento dos gestores municipais. O que realmente falta no Centro Histórico é gente morando, estudando e trabalhando na área, calçadas vivas e lugares seguros de convívio social.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores