O ideal progressista, em sua essência, busca justiça social, redução das desigualdades e a construção de um futuro mais próspero para todos. No entanto, o caminho entre a formulação de políticas e a conquista do reconhecimento popular está longe de ser simples. Por mais transformadoras que sejam as medidas de um governo, elas podem falhar em conquistar os corações e mentes daqueles a quem se destinam, sobretudo os trabalhadores de chão de fábrica e o eleitorado de baixa escolaridade. Essa dificuldade de comunicação é um problema que atravessa fronteiras e ideologias.
Governos progressistas, sejam de um lado ou outro do hemisfério, têm repetidamente demonstrado que ações concretas, como aumento de salários, fortalecimento de indústrias e investimentos estratégicos, não são suficientes para garantir apoio político consistente. É preciso falar a língua do povo, não no sentido literal, mas no simbólico. As narrativas que sustentam essas ações precisam ser claras, emocionais e, acima de tudo, compreensíveis.
Uma das armadilhas frequentes de projetos ambiciosos é a demora em mostrar resultados. Grandes obras, reformas estruturais e políticas industriais costumam demandar anos para maturar. Enquanto isso, o eleitorado, pressionado pelas urgências do presente, vê pouco ou nenhum reflexo imediato em suas vidas. Essa espera, inevitavelmente, cria espaço para a insatisfação e para discursos simplistas que exploram a sensação de abandono.
Além disso, há o desafio das identidades políticas e culturais. O voto não é apenas um reflexo de benefícios materiais; ele está profundamente enraizado em valores, medos e pertencimentos. Um trabalhador pode reconhecer que determinada política melhorou sua vida, mas, se não se sentir representado cultural ou simbolicamente por quem a propôs, o reconhecimento dificilmente se traduzirá em votos. Essa lacuna emocional é frequentemente preenchida por narrativas adversárias que apelam ao ressentimento e à desconfiança.
A lição que emerge desse dilema é simples, mas poderosa: não basta governar bem. É preciso comunicar melhor. Políticas públicas devem ser acompanhadas por estratégias de comunicação que traduzam conquistas complexas em mensagens simples e poderosas. A linguagem técnica deve ceder espaço a histórias que ressoem com as experiências do cotidiano. A mensagem deve alcançar não apenas a mente, mas também o coração de quem a recebe.
Mais do que nunca, partidos progressistas precisam reconhecer que seus maiores inimigos não são apenas os desafios estruturais ou os adversários políticos, mas a desconexão com aqueles que pretendem representar. É necessário sair dos gabinetes e das torres de marfim para ouvir o povo, entender suas dores e construir com ele uma narrativa de pertencimento e transformação.
Em tempos de polarização e ceticismo, governar para todos é um desafio. Mas falar com todos, de forma genuína e acessível, é uma obrigação. O futuro do progresso depende disso.
Palmarí H. de Lucena