O ano de 2023 está se apresentando como um desafio para a ordem mundial, expondo um momento de mudanças significativas em três regiões-chave. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia desafia a norma de longa data de que as fronteiras não devem ser alteradas pela força. No Oriente Médio, o conflito entre Israel e o Hamas alimenta uma radicalização perigosa, com milícias apoiadas pelo Irã lutando contra aliados dos Estados Unidos em várias áreas da região. Enquanto isso, a ascensão da China na Ásia continua a desestabilizar o equilíbrio de poder na região.
Nos esforços para conter a agressão russa, os Estados Unidos estão concentrando seus esforços na Europa, no entanto, é importante reconhecer que a economia russa é nove vezes maior do que a da Ucrânia antes do início do conflito, e a população da Rússia é atualmente quase quatro vezes maior. Essa disparidade básica só pode ser abordada por meio de assistência contínua e em larga escala do Ocidente à Ucrânia, combinada com pressões para que Kiev desenvolva estratégias militares gerenciáveis e reforme suas políticas e economia, a fim de se tornar de fato parte da União Europeia e da OTAN.
No que diz respeito ao Oriente Médio, o desafio é mais diplomático do que dissuasivo. Israel possui uma vantagem avassaladora em relação ao Hamas e é incontestavelmente o vencedor militarmente falando. Para garantir a segurança de Israel e estabelecer alianças significativas com seus vizinhos árabes, os Estados Unidos precisam enfrentar uma realidade inegável: cerca de 5 milhões de palestinos vivem em terras ocupadas por Israel, sem direitos políticos e sem um estado próprio, tarefa praticamente impossível se o governo de Netanyahu e os partidos de extrema direita permaneçam no poder.
A China representa um desafio ainda maior e seu papel moldará a ordem internacional a longo prazo, podendo levar a um segundo período de Guerra Fria, com corridas armamentistas em armas nucleares, espaço e inteligência artificial. A estratégia adotada pela administração Biden é sutil, enfatizando a competição e a dissuasão, ao mesmo tempo em que busca estabelecer uma relação de trabalho com Pequim. Nos Estados Unidos, há uma postura belicista predominante em relação à China no Congresso, com ênfase em medidas severas, como tarifas, que podem ter repercussões negativas na economia americana e gerar rupturas no cenário econômico global.
Apesar das políticas bem planejadas do presidente Biden em relação às relações internacionais, os desafios domésticos podem dificultar o progresso. Seu governo enfrenta a oposição de uma direita isolacionista, o que pode ser agravado se Donald Trump for eleito e o Partido Republicano conseguir maioria no Congresso. O desafio mais preocupante para a ordem internacional baseada em regras não vem da China, Rússia ou Irã, mas sim dos Estados Unidos. Se a América se retrair em qualquer uma dessas três áreas, a agressão e a desordem irão aumentar. O ano de 2024 pode ser um marco em que a política polarizada e degradante no Capitólio moldará o mundo em que viveremos nas próximas décadas
Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores
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