Dia 02 de outubro se aproxima. Magos do marketing político ocupados, produzindo pronunciamentos bombásticos, extrapolando as conquistas e as qualidades dos seus candidatos no horário eleitoral, nas redes sociais e outras vertentes midiáticas. Hipérboles, truísmos e deslizes da verdade invadindo nossos lares. Embaçados pela fumaça e os vidros dos ilusionistas da comunicação social, agentes políticos carentes de planos, ideias ou mérito, prometendo melhorias sociais, oferecendo benesses e repetindo soluções populistas para todo e qualquer problema. Mantendo o País e o povo nas profundezas do subdesenvolvimento humano e na periferia do progresso.
Perguntamos: você compraria um carro usado ou um terreno oferecido à preços módicos por um candidato político, após assistir uns tantos segundos de narrativa eleitoral? Faça essa pergunta antes de votar, vote de acordo com a sua resposta.
Democracia é um sistema frágil, as vezes ineficaz, mas é o melhor que temos. Atravessamos o século XX relativamente imunes às vertentes totalitárias do fascismo, nazismo e estalinismo. Convivemos com a guerra fria, sem nos engajarmos nos grandes conflitos bélicos do mundo bipolar. Éramos nós, nossos inimigos. Desigualdades entre classes, raças e regiões nos levaram a um desequilíbrio interno com consequências drásticas para a nossa nascente democracia, vivemos vinte e um anos pisoteados pela intolerância de uma ditadura militar.
Temos uma democracia cada dia mais ameaçada pela combustão explosiva do cinismo e patrimonialismo de políticos fisiologistas, militarização de instituições civis, ingerência política nos órgãos de segurança pública, surgimento de movimentos populistas e extremismo alimentado por “fake-news” ou teorias de conspiração. Temos também uma ameaça crescente de pseudodemocratas prometendo a teocratização das instituições democráticas. Ataques ao nosso sistema eleitoral, espectro de manifestações violentas por aqueles inconformados com os resultados eleitorais, politização de mecanismos de coerção estatal, abundância de armas na população civil e a falta de um diálogo genuíno entre o povo e a elite política, não auguram nada de bom para um futuro de convivência pacífica e do progresso democrático.
A democracia cresce e prospera quando seus elementos constitutivos: a sociedade civil, a liberdade, o laicismo e o progresso se entrelaçam em mosaicos mutuamente sustentáveis, sem exclusivismo, domínio de um sobre o outro, ou abdicação de princípios básicos e vocação republicana, embutida na separação dos três poderes. Desequilíbrios e limitações podem transformá-los em ameaças sérias à democracia e a felicidade geral da nossa grande nação.
Palmari H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores