São Paulo, a maior metrópole brasileira, está à beira de uma eleição municipal decisiva, mas as atenções estão voltadas para um jogador que não aparece nas urnas: o Primeiro Comando da Capital (P.C.C.), uma organização criminosa que tem ampliado silenciosamente sua influência na política do país. A crescente interferência desse grupo não só expõe vulnerabilidades institucionais, mas também levanta questões profundas sobre a integridade democrática do Brasil.
Investigações recentes apontam que o P.C.C. movimentou aproximadamente 1,5 bilhão de dólares por meio de fintechs, usando parte desses recursos para financiar campanhas eleitorais em São Paulo. Esse dado alarmante ganhou ainda mais repercussão quando um dos principais candidatos à prefeitura, Pablo Marçal, teve seu partido envolvido em gravações que sugerem ligações com o grupo criminoso. Embora Marçal tenha publicamente condenado essas conexões, o dano já estava feito, e a sombra do crime organizado permeia a corrida eleitoral.
A atuação do P.C.C. vai muito além da política. O que começou como uma gangue de presidiários nos anos 1990, hoje se transformou em um dos maiores cartéis de drogas do mundo, com presença consolidada em 23 países e controle sobre o tráfico de cocaína para a Europa. Sua expansão desenfreada, alicerçada na corrupção de autoridades e não na violência direta, tornou o grupo uma potência silenciosa, cujo alcance se estende tanto pelos becos das favelas quanto pelos corredores do poder.
No campo econômico, o P.C.C. diversifica suas atividades, investindo em negócios legalizados e firmando contratos públicos. Imóveis de luxo, serviços essenciais como a coleta de lixo e até transações envolvendo jogadores de futebol profissional estão sob investigação. As autoridades brasileiras já prenderam políticos com ligações ao P.C.C., mas isso é apenas a ponta do iceberg de uma rede que desafia o estado e testa seus limites.
Diante desse cenário, o Brasil enfrenta uma encruzilhada histórica: ou combate de forma decisiva o avanço do P.C.C., ou assiste impotente à consolidação de uma ordem paralela. A história da América Latina nos ensina que, uma vez que o crime organizado infiltra o setor público e privado, a reversão é praticamente impossível. A dominação das máfias reconfigura as estruturas políticas, tornando os governantes reféns e as instituições subordinadas aos interesses do crime.
A resposta a essa ameaça não pode se basear em repressão desenfreada, como as recentes operações policiais que resultaram em dezenas de mortes em São Paulo. Embora tentadoras, essas ações não atacam as raízes do poder do P.C.C.: o controle sobre fronteiras, o tráfico internacional e a lavagem de dinheiro. O caminho a ser seguido deve ser o da cooperação entre estados e países, e o fortalecimento de leis que combatam diretamente as finanças do crime organizado.
O futuro da democracia brasileira está em jogo. A influência do P.C.C. nas eleições municipais é um sinal claro de que o grupo está pronto para expandir seu domínio. O que o Brasil fizer agora definirá não apenas o destino do país, mas também de toda a região. Ao combater o P.C.C. como o que ele realmente é — uma megaempresa transnacional do crime — ainda há tempo de evitar um futuro dominado pela corrupção e pelo poder paralelo.
Palmarí H. de Lucena