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O entusiasmo dos jovens por Barack Obama era contagiante. Faziam pequenas doações para a campanha pela internet; participavam de comícios e passeatas; debatiam com seus pares o mérito das plataformas dos partidos. Estavam totalmente engajados no processo democrático, voluntariamente. Quando mandavam noticias para os pais, o assunto era sempre o futuro; a necessidade de mudar tudo; a crise econômica que avançava sem controle. As conversas eram sérias, analíticas, esperançosas. Sem que a diferença geracional ou ideológica atrofiasse a discussão. A Internet e a mídia social haviam criado uma enorme reunião no país.

Em novembro de 2008, recebi um e-mail do meu filho mais moço. Havia tirado um mês de férias do trabalho para participar, como um voluntário, na campanha de Obama na Virginia. Seu candidato necessitava dos votos do colégio eleitoral daquele estado. Uma meta complicada pela historia das relações raciais no Sul; a predominância de eleitores republicanos e a influencia da chamada direita religiosa na região. Sua mensagem era de esperança. Falava com orgulho e civismo de suas experiências, fazendo campanha de porta em porta em comunidades pobres, de baixa participação eleitoral. Um negro velho com mãos ásperas, deformadas por anos de trabalho braçal, abrindo a porta da sua casa para os jovens voluntários. Confessando orgulhosamente que estava votando pela primeira vez na sua vida. Uma mãe solteira, recebendo amparo social, morando com duas filhas em um trailer espremido entre duas linhas de trem, pedindo uma carona para o local de votação. As filhas levando os voluntários pela mão até outros trailers, mais pessoas necessitando transporte. Perderam-se varias vezes no labirinto de casas pequenas, mal construídas. Um carteiro apareceu e os orientou sobre as ruas, desvios, e caminhos da área. Não era um ato político-partidário. Um funcionário servindo a comunidade, os seus clientes.

A eleição presidencial de 2008 foi diferente. Mais de 74% dos usuários da Internet, representando 55% da população adulta entraram online para envolver-se no processo eleitoral ou obter informações sobre as eleições. Segundo um estudo da Pew Internet, 46% do eleitorado americano usou a internet, e-mails e celulares para contribuir financeiramente para as campanhas; compartir opiniões e mobilizar apoio para seus candidatos. Não foram os jornalistas profissionais, apresentadores da TV, ou os grandes doadores que influenciaram o resultado do certame. Os blogueiros, grupos de afins, Facebook, Twitter, redes alternativas de noticias, a telefonia celular se transformaram nas principais fontes de discussão eleitoral no país. A mídia eletrônica e impressa, como sempre, expressou opiniões de “um para todos”. A mídia social obteve evidencia e expos fatos sobre todos os aspectos pessoais e profissionais dos candidatos, plataformas políticas e suas propostas sobre a crise econômica que emergia, sempre “de muitos para muitos”.

Semanas depois das eleições, o país entrou na sua pior recessão econômica desde a Grande Depressão de 1929. O presidente eleito reagiu imediatamente. Comunicou-se diretamente com o povo, através dos canais da mídia social usados na campanha eleitoral. O grande debate nacional sobre a crise econômica e como resolvê-la, começou antes da posse. O povo havia sido preparado pela Internet para enfrentar a longa e árdua estrada adiante. Todos tentando chegar a um consenso, ou pelos menos a um plano de ação, sobre as medidas necessárias para evitar o colapso do sistema financeiro; a perda de competitividade e empregos na indústria nacional; a destruição do patrimônio familiar.

A importância e a influencia democratizante da Internet, são reconhecidas nas novas regras de financiamento de campanhas eleitorais, permitindo que a maioria das iniciativas da mídia social seja livre de qualquer regulamentação, desde que realizadas sem compensação financeira. Com poucas exceções, uma pessoa pode criar sites, blogues, material para ser distribuído por correio eletrônico, mobilizar recursos e doações, colaborar com amigos ou afins em atividades relacionadas com uma campanha política. A aplicação das regras eleitorais ocorre somente em circunstâncias muito especificas. Quando pagamentos são realizados por anúncios, banners e outros tipos de comunicações, através de blogs e sites de terceiros.

A Internet e a democracia foram as grandes vencedoras nas eleições de 2008.

Nova Iorque 2008