Democracia ameaçada pela insegurança

Vivemos enclausurados em mecanismos de segurança improvisados para nortear-nos no nevoeiro do medo cobrindo nossas ruas, casas, escolas e locais de trabalho. Medo justificado pela capilaridade e previsibilidade de encontros violentos com criminosos, muitas vezes até com membros das forças de segurança. Somos prisioneiros de uma falha significativa de todos os Governos do Brasil desde a redemocratização, em assegurar condições mínimas de segurança à população. Insegurança permeia todos aspectos do cotidiano do cidadão brasileiro, seja ela judicial, pessoal ou econômica. Estamos afundando em um atoleiro sugando impassivelmente instituições e garantias fundamentais inerentes a uma democracia genuína e inclusiva

Insegurança afeta a todos, seja em áreas rurais ou urbanas, criando condições ou um clima favorável às violações de direitos humanos inalienáveis, com episódios de justiça das ruas, espancamentos e atos que denigrem a dignidade humana e os preceitos básicos do Estado Democrático. Pessoas são executas à luz do dia, crianças são mortas por balas perdidas, somos protagonistas de uma violenta chanchada, muitas vezes incapazes ou indispostos de distinguir entre vitimas e carrascos. Ora aplaudimos um policial que dispara contra uma pessoa desarmada, ora somos indiferentes a um policial ferido morrendo na rua. A insegurança é hoje o prato do dia na mesa do brasileiro.

Policiais se sentem como vitimas, trabalhando em uma carreira amarga e desprestigiada em um país onde o perigo é sempre presente e real. Lavam suas fardas escondidas em casa para não expor sua profissão, limitam atividades sociais para evitar riscos ou ser vitimas de atentados. Policiais acusam juízes de soltar criminosos capturados com grande risco à suas vidas, as comunidades acusam os policiais de serem indiferentes à pedidos de ajuda. Presumivelmente corrupta, sem preparoe sempre mal remunerada, a policia brasileira é a que mais mata e morre no mundo. Somos vitimas da insegurança corrompendo as entranhas do Estado Democrático de Direito.

Palmari H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores