A Rua da Areia, que já foi símbolo de elegância e vitalidade na capital paraibana, hoje se tornou um monumento ao abandono e à indiferença. Suas fachadas desbotadas, sobrados em ruínas e calçadas maltratadas são testemunhas silenciosas de uma cidade que, em nome de um progresso apressado e desordenado, esqueceu suas próprias raízes históricas. Por trás desse cenário de decadência, há uma história marcada não apenas pelo desleixo, mas por uma politização mesquinha que transformou qualquer esforço de revitalização em um jogo de interesses e disputas.
Por anos, muito se falou sobre a necessidade urgente de restaurar áreas históricas para atrair novos moradores e turistas. A revitalização urbana deveria trazer vida de volta a esses espaços esquecidos, criando um ambiente que valorize tanto a memória quanto a modernidade. No entanto, o que se vê são promessas eleitorais que rapidamente se dissipam, deixando a população frustrada ao assistir, impotente, ao declínio lento de um patrimônio que poderia — e deveria — ser preservado. O que realmente impede a recuperação dessa área não é a falta de recursos, mas o excesso de interesses políticos conflitantes. Cada tentativa de revitalização vira palco para manobras pessoais, enquanto projetos se arrastam por anos, mudando de mãos a cada nova administração, condenando a rua à inércia.
A Rua da Areia, que outrora foi palco de desfiles festivos e procissões religiosas, hoje agoniza sob o peso de um viaduto que mutila seu traçado histórico, impondo uma modernidade agressiva e desrespeitosa. Em vez de restaurar seus antigos sobrados e preservar a alma da cidade, a opção tem sido abrir caminho para o fluxo incessante de veículos, abafando o passado sob o ruído do tráfego. Essa “solução” é um testemunho claro de como a lógica utilitarista se sobrepõe ao respeito pela memória coletiva, apagando, aos poucos, a identidade da cidade.
Transformar áreas históricas em polos de atração é, em teoria, uma proposta louvável, mas na prática revela-se um quadro desolador. A recuperação, em vez de unir forças em um esforço comum, se transforma em uma arena de disputas e interesses imobiliários. Enquanto grandes cidades revitalizam seus centros históricos, a capital paraibana, por inércia e descaso, permite que um de seus mais antigos logradouros continue a se desintegrar, sob o olhar complacente das autoridades.
É urgente que a cidade desperte de sua letargia antes que seja tarde demais. O tempo não é gentil com os monumentos esquecidos, e as ruínas que hoje guardam um eco do passado logo serão irreconhecíveis, tragadas pelo descaso e pela indiferença. A preservação de uma cidade não é apenas uma questão de salvar edifícios de tijolos e concreto, mas de resgatar memórias que definem a essência de um lugar. Cada pedra, cada fachada tem uma história a contar, uma história que não deve ser apagada.
A Rua da Areia não precisa ser um símbolo de decadência. Pode, e deve, se transformar em um exemplo de como a dignidade de um espaço pode ser restaurada, honrando sua história e inspirando novas gerações a valorizar o que é realmente duradouro. Que as promessas de requalificação deixem de ser meros artifícios eleitorais e se transformem em um compromisso genuíno com a cidade e com todos aqueles que, em suas memórias, ainda guardam o encanto que essa rua um dia teve. Pois uma cidade que não respeita suas raízes está condenada a perder, junto com seus edifícios, a sua própria alma.
Palmarí H. de Lucena