Revitalização da área central de cidades brasileiras, principalmente a parte histórica daquelas que são repositórios da memória cultural do País, é um dos grandes desafios do novo governo. Turistas estão voltando, trabalho presencial retornando, enquanto, destruição paulatina de imóveis abandonados ou pouco rentáveis, efeitos de mudanças climáticas tornam restaurantes, cafés, lojas, pequenos negócios e serviços de mobilidade urbana insustentáveis sem presença de estruturas e serviços 24/7, em comunidades outrora celeiros de moradia adequada, oportunidades de emprego, comércios diversos e convivência social segura.
É evidente que o medo do coronavírus que provocou o fenômeno do “home office”, esteja em declínio, enquanto a mais significante mudança na força laboral em gerações acontece. Muitos trabalhadores experimentaram as vantagens de trabalhar em casa, preferindo continuar na modalidade ou no mínimo cumprir uma escala hibrida, mistura de trabalho remoto com jornada presencial por alguns dias, dependendo da ocupação. Cidades devem adaptar-se a esta nova realidade ou expor-se ao risco de provocar uma espiral descendente nos valores de imóveis privados ou comerciais, queda de arrecadação de impostos, acelerar a formação de bolsões de pobreza, lumpenização das classes sociais e proliferação de pessoas vivendo em situação de rua.
Existem duas possíveis soluções: trazer mais pessoas de volta aos escritórios, converter imóveis fechados ou com espaço ocioso em apartamentos, lugares de coworking ou de entretenimento. Temos uma oportunidade única de revitalizar áreas centrais de cidades, tarefa que deveria ser a prioridade máxima de gestores municipais, na criação de áreas 24/7 com amplo espaço para escritórios, lojas, apartamentos, escolas, parques e entretenimento, para atrair pessoas durante o dia, mantendo um núcleo de residentes para a área vibrante e populada depois do expediente de trabalho. A urbanista Jane Jacobs resgata em seu livro “Morte e vida das grandes cidades” (1961 as ricas pré-existências da cidade multifuncional, compacta e densa onde a rua, o bairro e a comunidade são vitais na cultura urbana. “Manter a segurança da cidade é tarefa principal das ruas e das calçadas”.
Quando se trata de imóveis abandonados ou em processo de desmoronamento, deve-se pensar além de restauro físico ou requalificação de logradouros. Priorizando instalação de iluminação adequada, melhorias no trânsito público, construção de miniparques, faixas de ciclismo e espaços recreacionais ao lado de apartamentos. No caso de João Pessoa, a topografia favorece a criação de um “Marco Zero” da capital paraibana nas margem do Rio Sanhauá, conversão de imóveis industriais abandonados em edifícios híbridos – apartamentos adaptados a trabalho em casa. Projetos que redefiniriam o que faria nossa cidade única e atrativa para seus residentes e visitantes.
O poder público carece de criatividade e coragem política para encarar o problema da decadência de áreas urbanas. Quase semanalmente, postagens nas mídias sociais pela Prefeitura e um coro grego de turisburocratas anunciam visitas técnicas, assinatura de ordens de serviço, retomada de várias obras paradas por quase uma década, a exemplo do “Conventinho” , no Centro Histórico de João Pessoa.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores