Ceticismo e desconforto começara a germinar durante as manifestações na época dos Jogos Pan-americanos de 2013. Sentimento reforçado pela incapacidade do poder público de responder minimamente às demandas da sociedade brasileira. Resultados esportivos inaceitáveis e corrupção no Mundial de 2014, mostrando sérias e profundas fissuras na superfície prístina de um Brasil emergente manufaturado por marqueteiros partidários. Considerado como o melhor do mundo, o futebol brasileiro transformou-se em uma caricatura deprimente de uma instituição nacional, o orgulho do povo e o objeto de desejo de todos os países do mundo. Atravessamos o Rubicão a partir de então…
Vieram os Idos de Maio, um parlamento acostumado aos arranjos e manobras feitas em lugares imunes à luz do sol, explodiu como uma panela sob a pressão de uma malcheirosa sopa de miúdos. O fedor espalhando-se pelo o ar rarefeito do Planalto Central. Acusações, impropérios, gritos, ilações e hipérboles, as ferramentas preferidas dos políticos medíocres que dizem nos representar. O impeachment da presidente criou dois campos adversários: ambos certos, ambos errados. Transformaram o mundo em uma imensa lavanderia para a roupa suja do desgoverno, fisiologismo e corrupção brasileira. Passada a reação inicial, o mundo entendeu que o problema era mais profundo: chama-se Congresso Brasileiro, uma instituição descrita pelo New York Times como um circo de 594 personagens com seu próprio palhaço. Os presidentes de ambas casas do legislativo, suspeitos de uma multiplicidade de crimes e ofensas.
Há algumas semanas, tivemos a oportunidade de conviver com as reações da sociedade americana sobre recentes acontecimentos no Brasil. Ouvimos opiniões de pessoas com investimentos no Brasil ou em ações da Petrobras e Letras do Tesouro, todos temendo que o atoleiro político do momento seja o prelúdio de acontecimentos indescritíveis contra a democracia e concomitante efeito negativo para a estabilidade socioeconômica da América Latina. Parece que vamos de Guatemala para Guatepior…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores