O Brasil está imerso em um Banho-Maria de sucessivas crises políticas desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 31 de agosto de 2016. Crises pacificadas com viés oportunista de sobrevivência e abundância de alianças espúrias, alimentadas com recursos do Erário. Agentes políticos circulando sorrateiramente no perímetro dos centros do poder, tubarões e baiacus prontos a devorar a carne fresca do clientelismo e da corrupção, espreitando suas presas na escuridão da profundeza de conchavos, servidores públicos que ousaram interromper seus lupanares de poder, ostentação do enriquecimento ilícito e questionar abusos de privilégios e imunidade parlamentar.
A gravidade e os perigos da crescente crise política do momento, acrescenta um elemento de insulto ao agravo de um povo exposto as incertezas e riscos da pandemia do coronavírus. Atravessamos uma situação de instabilidade jamais imaginada em um governo empossado com tambores rufando, há menos de 18 meses. Enquanto crescem as chamas do desgoverno, o Presidente continua investindo capital político na manutenção de turbas digitais, organizadas na eleição presidencial, que promovem com fake news, boatos e inverdades uma escalada de ameaça e de afronta à lei e às instituições, ações incompatíveis com a Constituição de 1988.
Ausência de manifestações à altura dos partidos políticos que em tese, representam politicamente os interesses da população, é tão grave como os episódios antidemocráticos apoiados presencialmente por pessoas investidas em autoridade, externando flagrantemente pouco-caso da Constituição e das instituições, aparentemente imbuídos em um sentimento de certeza da impunidade. Diante desse quadro, torna-se incompreensível o silêncio cúmplice dos partidos políticos e muitas de suas lideranças.
Isolamento social não pode transformar-se em uma justificação para omissão das lideranças políticas. Não é suficiente barricar-se atrás nas togas da Justiça, em concreto o STF, para pôr freios e limites ao bolsonarismo e ao seu chefe. É certo que o Direito oferece instrumentos de proteção da Constituição, mas a crise que atravessamos hoje é também e principalmente de natureza política. Ausência de participação dos partidos e boas práticas políticas, os remédios são meros paliativos incapazes de estripar o tumor maligno ou metástase de forças antidemocráticas, contaminando nossa democracia.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores