Deparamos frequentemente com pessoas vivendo inadequadamente em situação de rua, imaginamos institivamente serem vítimas de alguma tragedia pessoal. Perguntamos: por que fizeram escolhas erradas, prostituição, drogas ou álcool? Por que não superaram impedimentos a situações laborais mais favoráveis? Por que têm mais crianças do que podem suportar? Por que não conseguem pagar aluguel ou acomodação alternativa? Encontros mais memoráveis com estas pessoas tendem a ser quando certas situações são mais chocantes, é difícil notar uma família vivendo em moradia inadequada, mais fácil é lembrar de alguém sofrendo um surto mental no transporte público ou logradouro.
Identificando fracassos pessoais ou tragédias específicas de pessoas desabrigadas como principais causas da situação em que se encontram, ajuda aqueles que têm acomodações a sentirem-se menos incertos, mais confortáveis em descartar a possibilidade de serem vítimas da mesma situação, aceitando passivamente que a coerção legal e uso de forças militares sejam a única alternativa viável contra a ocupação de prédios abandonados, praças e ruas por pessoas vivendo em situações de pobreza e desabrigo.
Examinando quem especificamente se transforma em um morador de rua, podemos nos referir a exemplos importantes da vulnerabilidade de indivíduos, seja por deficiência física ou mental, pobreza extrema, violência doméstica ou divórcio, sem considerar que carência de habitação a preços acessíveis, relega um número significante de pessoas a juntar-se a crescente legião de pessoas sem-teto, uma situação mais difícil de constatar, mesmo sendo a causa subjacente da crise de moradia.
Sofrimento de pessoas em situação de rua, não representa um risco para políticos ou gestores municipais. Postagens no Facebook, Tweet ou Instagram confirmam que pessoas vivendo em cidades com populações desabrigadas, tendem a ver o problema como algo de desordem, ameaças a segurança pública ou qualidade de vida. Eleitores continuam perdendo paciência com políticos, que demonstram relutância em usar medidas drásticas para limpar áreas de indesejáveis moradores de rua em centros históricos em decadência, situação agravada pelo clima de intolerância contaminando a opinião pública e resistência a pautas sociais.
O déficit habitacional brasileiro é de 6,4 milhões de unidades, dos quais 79% se concentram em famílias de baixa renda, que destinam mais de 30% dos seu salário para pagar aluguel. Reativação do programa Minha Casa Minha Vida é um passo na direção certa, havendo também possibilidades de desenvolver instrumentos financeiros inovadores para a requalificação de imóveis individuais ou institucionais degradados, a viabilidade de recuperação/reciclagem deste estoque é enorme, estima-se a existência de aproximadamente 7,9 milhões de domicílios vagos no País, com potencial de serem ocupados por famílias sem acomodações adequadas. Com a palavra o governo federal.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores