A devastadora inundação que assolou o sul do Brasil expôs mais uma vez as consequências desastrosas da ação humana sobre o meio ambiente. Estudos indicam que a queima de combustíveis fósseis e árvores dobram a probabilidade de eventos climáticos extremos como este.
Com 169 vidas perdidas e uma destruição em massa de residências e colheitas, o desastre foi amplificado pelo desmatamento desenfreado, cortes em investimentos essenciais e uma preocupante falta de competência nas gestões locais. Cientistas alertam que, sem uma redução drástica nas emissões de gases de efeito estufa, calamidades dessa magnitude se tornarão cada vez mais comuns. No Rio Grande do Sul e no Uruguai, milhares ainda lutam para reconstruir suas vidas após um mês de chuvas intensas que deslocaram 80.000 pessoas e deixaram mais de um milhão sem serviços essenciais.
Em Porto Alegre, a situação foi exacerbada por defesas inadequadas contra inundações, que falharam quando mais necessárias. Investimentos nessas infraestruturas foram cortados, apesar dos alertas sobre a vulnerabilidade crescente da região devido ao desmatamento e à urbanização descontrolada.
O custo econômico dessa tragédia é estimado em mais de US$ 1 bilhão, com impactos severos na agricultura que devem elevar os preços de alimentos essenciais em todo o país. A destruição de florestas ribeirinhas e pântanos para a expansão agrícola piorou ainda mais a situação, eliminando defesas naturais contra enchentes.
O estudo do grupo World Weather Attribution confirmou que a mudança climática, exacerbada por atividades humanas, está aumentando a frequência e a intensidade de chuvas extremas. O aquecimento global empurrou a faixa tropical para o sul, aumentando a probabilidade de inundações no Rio Grande do Sul.
Para evitar futuros desastres, os autores do estudo sugerem um planejamento urbano mais abrangente, maior investimento em defesas contra inundações e um foco no desenvolvimento social equitativo. Proteger e restaurar barreiras naturais, como florestas e pântanos, é crucial para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
A medida mais urgente, no entanto, é a rápida redução da queima de árvores e combustíveis fósseis. Somente assim poderemos evitar que tragédias como essa se tornem o novo normal.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores