A prática de duplos padrões pode afetar a credibilidade e a autoridade dos EUA no âmbito internacional, prejudicando suas relações com outros países e minando a legitimidade das instituições multilaterais. Especificamente, o veto à resolução do Conselho de Segurança que respaldava a ação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), proposta por um país do Sul Global, também traria implicações negativas para a busca de justiça e responsabilização por crimes de guerra e violações dos direitos humanos. Embora a atuação do TIJ no caso da guerra de Israel em Gaza não seja perfeita em sua implementação, é um instrumento importante para assegurar a responsabilidade e a justiça para as vítimas.
O respaldo à atuação do tribunal por parte dos EUA seria um sinal de compromisso com esses valores fundamentais. É incontestável que a política externa americana frequentemente é moldada por interesses próprios, em detrimento de princípios democráticos, soberania nacional ou direitos humanos. Isso fica especialmente evidente em casos como a intervenção no Iraque e o apoio a governos autoritários mediante recursos naturais.
Nesse sentido, se os EUA optarem por utilizar seu poder de veto para bloquear a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, estarão sujeitos a acusações de hipocrisia. Isso abrirá espaço para que outros países, como a Rússia, também ignorem decisões do Tribunal Penal Internacional que não estejam alinhadas com seus interesses. Essa abordagem apenas reforçaria as críticas de que o Ocidente se preocupa com democracia, direitos humanos e soberania apenas quando lhe convém.
É importante compreender que as decisões tomadas pelos EUA como país soberano frequentemente são baseadas em uma combinação complexa de interesses geopolíticos, segurança nacional e considerações estratégicas. É compreensível que os EUA priorizem seus próprios interesses em detrimento dos princípios universais que publicamente defendem. No entanto, essa postura não é defensável. É crucial que os EUA ponderem cuidadosamente as implicações de suas escolhas em relação aos padrões internacionais de justiça e à credibilidade de sua liderança global. Embora possam ter razões para agir em prol da proteção de seus interesses estratégicos, é fundamental que também considerem as consequências de tais ações a longo prazo.
Isso significa que os EUA devem estar cientes do impacto que suas decisões têm na percepção de sua posição como líder global, bem como nas relações internacionais. Ao equilibrar essas escolhas, é importante que considerem as questões éticas e morais envolvidas, além das implicações políticas e diplomáticas. Os EUA devem ser cautelosos e responsáveis ao fazer escolhas que possam afetar os padrões internacionais de justiça e sua liderança global. Embora tenham motivos para priorizar seus interesses próprios, é fundamental que ponderem as consequências de suas ações a longo prazo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores