Há cinquenta anos, os exércitos do Egito e da Síria lançaram um ataque surpresa, infligindo uma série de derrotas militares a Israel. No entanto, as Forças de Defesa de Israel conseguiram se reorganizar, retomar a iniciativa e mudar o jogo. Hoje, os israelenses estão buscando compreender o que aconteceu nos kibutzim de Be’eri e Kfar Aza, localizados na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, em 8 de outubro de 2023. Ambas são comunidades agrícolas coletivas administradas de acordo com princípios de igualdade, cooperação e responsabilidade mútua, em contraste com a beligerância dos colonos israelenses que invadem ilegalmente territórios palestinos ocupados por Israel.
As histórias e imagens de massacres nas duas comunidades, no entanto, são diferentes das experiências vividas durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Na imprensa internacional e nas mídias sociais, há comparações sendo feitas com os momentos mais sombrios da história judaica e o espectro do antissemitismo no mundo ocidental. Muitos líderes mundiais, organismos multilaterais e de ajuda humanitária criticam a reação desproporcional de Israel e os bombardeios assimétricos de áreas civis da Faixa de Gaza, caracterizando essas ações como “genocídio” ou “massacre” da população palestina, especialmente crianças, como violações do Direito Internacional Humanitário.
Argumenta-se que Israel está pagando o preço por anos de arrogância, durante os quais governos sucessivos e muitos israelenses se sentiram mais fortes do que os palestinos e os ignoraram. É válido fazer críticas à forma como Israel abandonou a tentativa de fazer a paz com os palestinos e manteve milhões deles sob ocupação por décadas, em um sistema semelhante ao apartheid sul-africano. Isso, no entanto, não justifica as atrocidades cometidas pelo Hamas, que nunca aceitou qualquer possibilidade de tratado de paz com Israel e tem feito tudo ao seu alcance para sabotar o processo de paz de Oslo, assim como o governo de Benjamin Netanyahu e seus membros mais radicais.
Há cerca de 25 anos, Israel tem sido governado por Netanyahu, um populista autocrático, gênio da demagogia pseudonacionalista, mas um primeiro-ministro incompetente. Ele estabeleceu uma coalizão em dezembro de 2022, uma aliança de fanáticos messiânicos e oportunistas sem vergonha, que ignoraram os muitos problemas de Israel, incluindo a deterioração da situação de segurança, e se concentraram em obter poder ilimitado para si próprios. Ao adotar políticas extremamente desagregadoras, espalhando teorias da conspiração ultrajantes sobre instituições estatais que se opõem às suas políticas e rotulando as elites a serviço do país como traidores, membros do “estado profundo”. Não importa o que se pense sobre Israel e o conflito israelense-palestino, a forma como o populismo corroeu o Estado de Israel deve servir como um aviso para outras democracias em todo o mundo.
Há muito a ser criticado sobre o comportamento passado de Israel. Esperançosamente, uma vez que a vitória sobre o Hamas seja assegurada, os israelenses não apenas responsabilizarão o governo de Benjamin Netanyahu, mas também abandonarão teorias conspiratórias populistas e fantasias messiânicas. A comunidade internacional exige que façam um esforço honesto para cumprir os princípios fundadores de Israel de democracia interna e paz externa, incluindo o estabelecimento de um Estado Palestino na Faixa de Gaza e Cisjordânia e relações pacíficos com seus vizinhos árabes.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores