Oportunismo e imediatismo midiático na cobertura de calamidades, conflitos ou terrorismo, antecipando o resultado dos esforços de resgatar, assistir às vítimas e de dimensionar o impacto do evento. Reações ao ataque terrorista em Paris é mais um exemplo. Enquanto o mundo ainda tentava compreender a tragédia, megafones humanos e políticos usando do momento para denunciar com narrativas cheias de hipérbole os perigos da imigração, controle de armas, comércio livre e inclusão social.
Comprávamos frutas no mercado, quando ouvimos fragmentos de um discursão entre os habitués de um barzinho chamado “Alta Pressão”. Um homem argumentando: “ […] a AA é culpada pelo terrorismo do Estado Islâmico, se não houvessem curado o alcoolismo de George Bush, ele jamais teria sido eleito presidente. ” Mentes sóbrias e experts consideram a invasão do Iraque como o divisor de águas na expansão do terrorismo na região e o nascimento do Estado Islâmico.
Por décadas sofremos de fatiga de compaixão. Campanhas midiáticas, celebridades promovendo causas aleatórias e profissionais da miséria humana explorando sensibilidades afloradas por sentimentos de solidariedade, provocando reações desproporcionais, muitas vezes encobrindo preconceitos. Ataques terroristas perpetraram crimes hediondos contra vítimas inocentes na África, Oriente Médio, Paquistão e Índia, considerados alvos militares legítimos por serem pessoas de certas religiões ou grupos étnicos. Esquecidos prontamente, suas bandeiras ou símbolos ausentes das campanhas de solidariedade nas redes sociais e manifestações.
Globalizando o pesar e a catarse provocados pelos ataques do EI em Paris, hasteamos a tricolor, cantamos La Marseillaise, protagonizamos a glória e as tragédias de um mundo eurocêntrico, os guardiães do templo da cultura e da civilização ocidental. Esquecemos as vítimas das tragédias que assolam nossas cidades, mesmo aquelas que são consideradas Patrimônio da Humanidade pelas Nações Unidas.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores