Em “Raízes do Brasil”, o autor Sérgio Buarque de Holanda destaca aspectos como a formação de uma sociedade baseada no personalismo, a dependência em relação às figuras de autoridade, a concepção de tempo marcada pela valorização do presente e a falta de planejamento para o futuro, além da cordialidade como forma de mascarar as desigualdades sociais. Já no “Brasil, País do Futuro”, a célebre frase do escritor austríaco Stefan Zweig sempre serviu como exemplo claro de toda a felicidade e esperança, que a maior nação da América Latina sempre teve em seus anos vindouros.
Vivemos por décadas dentro de uma bolha opaca, na qual coexistiam a imagem do homem gentil, a democracia racial e a esperança no futuro, um Brasil diferente do resto do mundo, embalado pelo ritmo do samba e do pandeiro. Segundo uma pesquisa realizada em 2022 pela Gallup e o The Changing Childhood Project, do Unicef, adolescentes e jovens estão se mostrando cada vez mais desanimados e pessimistas em relação ao futuro do país. Apenas 31% dos entrevistados, com idades entre 15 e 24 anos, acreditam que o mundo está caminhando para melhor. Essa descrença pode estar relacionada ao sentimento de desesperança, à sensação de insegurança e às catástrofes ambientais, que levam à ideia de que não há perspectivas positivas para o futuro.
Durante o auge da Covid-19, muitos jovens testemunharam seus pais perderem empregos ou entrarem em contato com amigos que desistiram de estudar. Essas situações trouxeram problemas que antes existiam apenas fora de casa, mas que agora estão presentes no ambiente familiar. A redução do otimismo entre os jovens pode estar relacionada ao fato de que eles têm sido expostos excessivamente à internet e às redes sociais. Essas plataformas têm o poder de amplificar notícias negativas ou falsas, aumentar as comparações sociais e alimentar sentimentos de inadequação e frustração. Isolamento social e a falta de interação contribuem para o agravamento da tristeza e da desconfiança, que vão além do período mais agudo da pandemia.
É essencial criar um ambiente seguro e saudável na internet, garantindo a privacidade e proteção dos dados pessoais. Estarmos atentos aos indícios de vício na internet e buscar ajuda profissional caso necessário, ressaltando também que a internet também traz inúmeros benefícios, como acesso a informações importantes, oportunidades de aprendizado, conexão com pessoas ao redor do mundo, entre outros. O importante é encontrar um equilíbrio saudável no uso da tecnologia, usufruindo dos benefícios que ela oferece, sem se tornar dependente dela.
Existe uma necessidade urgente de implementação de políticas públicas que auxiliem os jovens a enfrentar os desafios do futuro e a construir um mundo melhor. É imprescindível criar programas educacionais que priorizem o desenvolvimento de habilidades de pensamento crítico e criativo, empreendedorismo e inovação, oferecer programas de formação profissional que auxiliem os jovens a ingressarem no mercado de trabalho e a adquirirem conhecimento sobre o setor em que desejam atuar. Além de disponibilizar recursos que facilitem a conexão entre os jovens, permitindo que compartilhem experiências e aprendam uns com os outros. Dessa forma, será possível capacitar os jovens para os desafios do futuro, protagonistas no desenvolvimento socioeconômico do país.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores.