Aparentemente em busca de algum objeto tangível escapando dos olhos e da imaginação de adultos que as acompanhavam, crianças correndo à procura de coisas pequenas na imensidão do logradouro. Momentos vividos na calma quase monástica da tarde, embelezados pelo esplendor do mosaico multicolorido de flores aninhadas em canteiros geometricamente compatíveis. Passarelas desenhadas no traçado da bandeira do Reino Unido, convergindo para o obelisco do primeiro centenário da luta pela Independência do Brasil. Restaurada e reinaugurada, a praça devolvida à vocação original idealizada pelo filantropismo visionário de Walfredo Guedes Pereira, eternizado pelo traço mágico do arquiteto Hermenegildo di Lascio. Divisor de águas entre séculos de história e a crescente muralha de concreto beirando o oceano.
Casarão em ruinas na parte posterior da Praça da Independência, contrastando a beleza e o futurismo do retorno ao passado do logradouro, nos remetia para a absoluta e maléfica negligência com o nosso patrimônio cultural. Péssimas condições físicas e aparente abandono do imóvel designado e anunciado por três governadores como o futuro Museu da Cidade – Império e República. Casarões, igrejas, logradouros e bens materiais adquiridos e mantidos por gerações, todos condenados ao esquecimento e eventual extinção. Somos a terceira cidade mais antiga do Brasil, museu ao céu aberto da materialidade da demagogia de uma classe política mais preocupada com as artimanhas partidárias e a expansão do seu patrimônio político.
Acessibilidade a cultura e a alfabetização cultural são os neurônios complementares da nossa memória coletiva. Agregando ao dano patrimonial causado pela ausência de um Museu da Cidade, temos também que considerar a falta de compromisso da Prefeitura Municipal com programas de educação patrimonial nas escolas e a relutância do poder público em realizar um inventário dos bens móveis e monumentos públicos sob a responsabilidade do Estado e do Município.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores