Cidade cheia de perigos mil

Prometendo uma nova era de paz e tranquilidade no Rio de Janeiro, as unidades de polícia pacificadora começaram a decorar os perigosos aclives e declives de comunidades conhecidas mundialmente como “favelas”, há pouco menos de uma década. Estratégia inspirada nas táticas de contra-insurgência usadas pelas tropas norte-americanas nas guerras do Iraque e do Afeganistão, cujo resultados foram aquém dos objetivos desejados, contribuindo possivelmente para a evolução de um ambiente densamente hostil. Terreno fértil para escaramuças e enfrentamentos assimétricos entre forças militares e grupos fortemente armados. A experiência brasileira parece não ser diferente ou minimamente sustentável diante da crise político-econômica que vivemos.

O Secretario Estadual de Segurança declarou há dez anos atrás que: “Vocês não podem imaginar o que a negligência do governo com as favelas fez com esta cidade. É a falência do poder público”. Desde então, escândalos de corrupção e a crise financeira do Estado mantendo o poder público quase totalmente inerte diante do agonizante rebaixamento da qualidade de vida e o aumento exponencial da criminalidade, dentro e fora das favelas. Expressões de desespero, ceticismo e narrativas sobre vitimização pessoal são temas comuns. Recente militarização da segurança pública pouco contribuindo para estabelecer um clima de confiança e ordem.

Vilificados e desdenhados pela ira popular, políticos ocupam lugares reservados previamente para meliantes, membro de gangues e quadrilhas. O adjetivo “ladrão” usada como um termo genérico para quase todos os membros da classe politica, exceto aqueles prometendo o desencadeamento de ações agressivas, até mesmo letais, contra “os bandidos”. A situação do Rio de Janeiro apresenta sérios desafios a nossa democracia, aumentando o acirramento entre classes sociais e promovendo o crescimento de lideranças populistas de tendências autoritárias e narrativas preconceituosas. Estamos em uma cidade cheia de perigos mil, no coração do Brasil …

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores