Cargo de confiança?

Recebemos a chamada do secretário de nomeações do recém-eleito Prefeito de Nova Iorque, Abraham Beame, logo após as eleições municipais. Organizações dedicadas à prevenção e ao tratamento de droga adição haviam submetido meu nome e informações profissionais para um dos cargos de gestor na nova administração. Assumiríamos o cargo em um momento de muita tensão na cidade, rumores e a ameaça da crise financeira dos anos 70 dominavam a mídia.

Comitê da Transição Municipal, subsolo da Prefeitura. Fileira de guichês de aparência temporária e poucos gabinetes. Confirmado nosso interesse, preenchemos um questionário detalhado sobre nossa experiência profissional e fornecemos exemplos específicos dos nossos desafios e sucessos como gestor. Lista completa do nosso portfólio de investimentos e cinco anos de declarações de imposto de renda. Comunicaram-nos que estávamos na lista tríplice para o cargo de Comissário Adjunto (Subsecretário) na Addicion Services Agency, completados os requerimentos. Administraríamos uma dotação orçamentária de 150 milhões de dólares, designado a projetos de organizações não governamentais e fundações.

Semanas depois, fomos informados, havíamos sido nomeados temporariamente enquanto aguardavam a conclusão do relatório da Comissão de Investigações. Avaliavam nossa competência, antecedentes pessoais e outros elementos que pudessem impedir que fôssemos afiançados pelo Governo. Requisito final: carta de renúncia, sem data. Permanecer na administração da cidade, a partir do momento da contratação, estaria estritamente relacionado ao nosso desempenho, conduta profissional e pessoal, bem como disponibilidade de recursos orçamentários.

A expressão cargo de confiança nunca foi usada ou inferida no processo que culminou com a nossa nomeação como gestor sênior no governo municipal de Nova Iorque. O conceito é considerado anacrônico e contraditório aos preceitos modernos de administração pública e boa governança, ou seja, total e irrestrita competência é a norma. Verificaram antes de confiar que nossa capacidade de gestão, experiência profissional e nomeação não causariam sugestões de conflito de interesse ou acusações de nepotismo. Confiança? Sim, na competência.