Cantiga para meu pai

Photo by Palmarí H. de Lucena
Cantiga para meu pai

Na pequena São João, no sertão a brilhar,
A filarmônica, de amarelo, sempre a encantar.
Com a lira negra, seu símbolo a resplandecer,
Honório Maciel, o mestre, fez florescer.

Janelas abertas, o som a ecoar,
Instrumentos em coro, fazem a vila sonhar.
Prédio modesto, sem muita pretensão,
Mas sua música, tocava o coração.

A igreja imponente, firme a vigiar,
Pessoas à porta, prontas pra observar.
Classes unidas, lado a lado a viver,
Na cultura da cidade, a história a crescer.

Seridó abrasado, sem cor, sem frescor,
Só o vento quente, como único rigor.
Mas a música, ali, com seu brilho imortal,
Mantinha viva a alma cultural.

João Emídio no mural, em honra gravado,
Seu nome na história, sempre lembrado.
Construiu a sede, em trinta e quatro nasceu,

Pai e Tenente, que o tempo enalteceu.

Corneteiro da torre, herói do lugar,
No avanço do cangaço, veio alertar.
Sua casa visitamos, tão simples, modesta,
Partituras, memórias, em nossa festa.

Voltou à Paraíba, em trinta e três,
Soldado marchando, um novo recomeço fez.
Com a música, soube vidas transformar,
Crianças e pobres, sempre a ajudar.

O Esperanto das notas, paz a trazer,
Unindo culturas, com alma a florescer.
Na voz infantil, no coco de roda,
A vida parou, mas sua missão não foi embora.

Seguimos a estrada, cortando o sertão,
O Seridó deserto, em sua solidão.
A porteira aberta, a paisagem a mudar,
E a carroça no caminho, a esperar.

Majestosa, a serra de Mulungu se ergueu,
Mística, guardando segredos que não nos deu.
A pequena cidade, em festa, nos recebeu,
Com balões e fitas, o ar se acendeu.

João Emídio, meu pai, com carinho a contar,
De São João do Sabugí, seu eterno lar.
Aromas de comida, bordado a fiar,
A festa do padroeiro, o povo a alegrar.

Histórias de onças, águias e aparições,
Teatros na igreja, enchendo os corações.
Retretas marcantes, sempre a soar,
Nosso imaginário, para sempre a guardar.

A casinha de Josias, meu avô tão amado,
Branco e imponente, no tempo preservado.
Maestro Honório, na rua a morar,
E o Royal Cinema, só a recordar.

Aqui se resgata o corneteiro fiel,
Que subiu à torre, tocando ao céu.
João Emídio, herói, na música e no lutar,
Sua história ecoa, para sempre a brilhar.

Palmarí H. de Lucena

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