Campanhas negativas

Crescente desconforto com campanhas eleitorais negativas contradiz a proliferação de marketing e táticas fomentando o antagonismo eleitoral, ofuscando posições políticas, muitas vezes expondo aspectos da vida pessoal de oponentes. Comumente tais artifícios são usados por concorrentes em desvantagem eleitoral ou por aqueles enfrentando incumbentes. Paradoxalmente, a polarização do nosso segundo turno possibilitara maior acirramento da disputa eleitoral, principalmente na desconstrução das posições da oposição.

Desejo de mudanças expressado pelos eleitores será possivelmente relegado ao segundo plano ou amnesia eleitoral, dramatizando assim a dificuldade do governo em apoderar-se de uma narrativa reformista. O enfoque do incumbente em medos e riscos, será direcionada ao eleitorado e regiões mais dependentes da tutela do governo federal, evidentemente menos preocupado com reformas políticas, questões tributarias ou a macroeconomia. A oposição argumentará, em contraste, que a manutenção do status quo ameaça gerar uma desaceleração mais profunda do crescimento econômico e persistência inflacionária, com consequente depreciação do patrimônio do povo brasileiro. Temas pouco discutidos ou compreendidos pelo eleitor que depende de mensagens simples ou slogans criados por marqueteiros.

Existe um sentimento público que as campanhas são mais negativas e menos éticas. Experts sugerem que o crescente cinismo e abstenção eleitoral é uma consequência imediata do negativismo inerente aos certames. Candidatos que sucederam em descontruir seus adversários e ofuscar suas próprias debilidades, continuam uma crescente tendência.

Recente pesquisa nos Estados Unidos revela que 87% do eleitorado está preocupado com o nível de ataques pessoais nas campanhas eleitorais. A maioria considera que políticos mentem ou distorcem a verdade, como também que propagada negativa é relevante e apropriada quando expõe inconsistências entre discurso e ações. Denúncias sobre a aceitação de doações de fontes questionáveis, conflitos de interesses e uso de álcool e drogas são aceitáveis.

Portanto ao eleitor brasileiro, cabe decifrar as entrelinhas nos pronunciamentos e posições no horário eleitoral ou em breves aparições de candidatos. O eleitor mais informando valoriza a escolha e o impacto do seu voto. Perdidos na cacofonia de mensagens negativas, grande parte do eleitorado brasileiro vive na incerteza e dúvida sobre a eventual validade do seu voto.

Palmarí H de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores