BRICS e Brasil: A Escolha Pela Soberania

BRICS e Brasil: A Escolha Pela Soberania

Num mundo cada vez mais polarizado e volátil, o Brasil precisa decidir com clareza se quer ser satélite ou soberano. A resposta, embora complexa, encontra uma trilha promissora no BRICS — o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, mais recentemente, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. Mais que uma aliança diplomática, o BRICS representa hoje uma estratégia concreta de independência comercial, política e econômica para países em desenvolvimento.

A economia brasileira já colhe frutos dessa parceria. A China, principal motor econômico do grupo, absorve cerca de um terço das exportações brasileiras, com destaque para soja, petróleo, minério de ferro e carne bovina. Esse fluxo sustentado tem garantido superávits comerciais expressivos e ajudado a amortecer crises provocadas por instabilidades nos mercados norte-americanos e europeus. Além disso, o crescimento da Índia como nova potência econômica abre espaço para a diversificação da pauta exportadora, incluindo alimentos processados, máquinas agrícolas e soluções em energia renovável.

Mas o impacto do BRICS vai além do comércio. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), seu braço financeiro, já investiu mais de US$ 5 bilhões no Brasil, financiando obras de infraestrutura, abastecimento de água, mobilidade urbana e geração de energia limpa. Recentemente, o banco foi fundamental no apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul, com um pacote de R$ 5,7 bilhões após as enchentes de 2024. Trata-se de uma alternativa concreta a organismos como o FMI e o Banco Mundial, sem as amarras políticas nem as condicionalidades que tantas vezes fragilizaram a soberania dos países do Sul.

Além do financiamento e do comércio, o BRICS propõe novos modelos de governança internacional. A discussão sobre o uso de moedas locais nas trocas comerciais, por exemplo, desafia a dependência do dólar e reduz os riscos de volatilidade cambial. Isso fortalece o real, amplia a margem de negociação do Brasil e dá previsibilidade aos exportadores nacionais.

No campo político, o BRICS oferece uma plataforma onde o Brasil fala em pé de igualdade com gigantes globais. Em vez de se alinhar de forma subalterna a blocos dominados por antigas potências coloniais, o país exerce papel de liderança ativa, ajudando a construir consensos e pautar temas como segurança alimentar, transição energética e reforma das instituições multilaterais.

É verdade que o bloco enfrenta desafios internos — diferenças culturais, geopolíticas e econômicas. Mas também é verdade que o BRICS reflete o mundo real: complexo, multipolar e em transição. E é justamente nesse mundo em transformação que o Brasil precisa se posicionar com inteligência, pragmatismo e coragem.

Fortalecer o BRICS é fortalecer a autonomia brasileira. É reduzir a dependência de mercados voláteis. É escapar da armadilha de escolhas impostas de fora. É reafirmar que o país quer decidir seu destino não por delegação, mas por protagonismo.

O Brasil não precisa escolher entre os Estados Unidos ou a China, entre o Ocidente ou o Oriente. Precisa, isso sim, escolher a si mesmo.

Por Palmarí H. de Lucena