Cantos de pássaros exóticos, filhotes de cães ladrando, cheiro penetrante de alpiste e rações, cotidiano da pequena loja de animais de estimação. Alçapão plástico com um bebedouro de néctar improvisado, dois minúsculos filhotes de beija-flor encolhidos no centro do espaço. Resgatado pela providencial passagem de um adulto interessado na proteção de animais, sobrevivendo das mãos de crianças após seu ninho haver sido derrubado pela ventania. Observamos um movimento quase imperceptível, o maior subindo no corpo inerte do menor para alcançar a fonte de alimentação. Habituées e compradores de néctar para os nossos beija-flores, fomos subitamente incumbidos da recuperação e soltura dos pássaros, no nosso jardim. Nossa própria liberdade engrandecida pela liberdade deles. Aceitamos o desafio.
Alçapão aberto na sombra da pitangueira, dois passarinhos expostos ao céu da liberdade e à brisa do mar. Imaginando pequenos pares de olhos observando a cena à distância. Subitamente um bando de beija-flores fazendo manobras aéreas, piando como se fossem arautos. Festejando sua própria liberdade, o céu se transformando em uma festa. Encorajado por um dos visitantes, primeiro mergulho na atmosfera colorida do jardim. Voando em direção ao mar, desaparecendo rapidamente. Entardecia… Decidimos deixar o outro a sós com a natureza.
Alimentamos o que ficou para trás, o dia seguinte mal começara a acordar. Fortalecido tentou seu primeiro voo, alcançando a trepadeira de alamandas amarelas oposta à pitangueira. Observando seus movimentos, sentindo a angústia da despedida, a incerteza da volta. Empoleirado parecia hesitante, talvez esperando alguém. Voando paralelamente outro beija-flor, comportando-se como se estivesse ensaiando um balé ou um movimento coordenado. Partiram, voltando juntos no dia seguinte. Obrigado e até a próxima visita. Bons filhos sempre retornam. Pássaros também…
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores