O Brasil protagonizou uma das mais memoráveis campanhas de sua história nos Jogos Paralímpicos de Paris, conquistando 25 medalhas de ouro, 89 no total, e garantindo um lugar no top-5 do quadro geral de medalhas. No entanto, essa jornada de sucesso não foi construída da noite para o dia. O que explica, afinal, o país ter se consolidado como uma potência paralímpica?
Yohansson Nascimento, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), aponta para uma mudança de paradigma na forma como o país passou a identificar e incentivar atletas com deficiência. Antes de 2016, a captação de talentos era limitada a quem já se aproximava do esporte por iniciativa própria. A partir dos Jogos do Rio, o CPB mudou essa abordagem, passando a buscar diretamente essas pessoas, muitas vezes afastadas da prática esportiva por falta de oportunidades ou informação. Esse novo olhar se tornou um divisor de águas.
Um dos exemplos mais emblemáticos desse novo modelo é o Festival Paralímpico, uma iniciativa que visa introduzir crianças com deficiência ao esporte paralímpico de forma lúdica. Em 2023, o festival foi realizado em 119 cidades e mobilizou mais de 40 mil crianças, oferecendo-lhes um primeiro contato com modalidades esportivas que poderiam parecer distantes de suas realidades. Esse tipo de ação não só revela talentos, como também desperta um senso de pertencimento e inspiração, alicerces fundamentais para o desenvolvimento do esporte paralímpico no Brasil.
Além disso, o CPB estabeleceu centros de referência em 72 cidades, cobrindo todas as regiões do país com pelo menos uma unidade por estado. Esses centros têm a função de identificar potenciais atletas de forma precoce, proporcionando uma infraestrutura e apoio que antes não existiam em muitos locais. No entanto, a visão do CPB não se restringe ao alto rendimento. Segundo Nascimento, o esporte é visto como um instrumento de inclusão social, promovendo a integração de pessoas com deficiência na sociedade, fortalecendo sua autonomia e dignidade.
Yohansson Nascimento, que coleciona seis medalhas paralímpicas no atletismo, é um exemplo vivo dessa transformação. Ele começou sua trajetória aos 17 anos, convidado por uma treinadora que o encontrou em um ônibus em Maceió, sua cidade natal. Hoje, ele está à frente de um movimento que transforma vidas por meio do esporte, juntamente com outros líderes, como Mizael Conrado, presidente do CPB e bicampeão paralímpico no futebol de cegos.
A conquista histórica em Paris demonstra que o Brasil não só consolidou sua posição no cenário internacional, como também superou as expectativas criadas em edições anteriores, como Rio 2016 e Tóquio 2020. Com 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, o Brasil reafirmou seu lugar entre as grandes nações do paradesporto, ficando atrás apenas de potências tradicionais como China, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Holanda.
Mais do que um resultado expressivo, essa trajetória representa a vitória de um modelo de inclusão e transformação social, no qual o esporte paralímpico é o ponto de partida para a superação de barreiras e a construção de novos ídolos que inspiram futuras gerações. O caminho para o futuro é promissor, e a cada edição dos Jogos Paralímpicos, o Brasil consolida-se não apenas como uma potência esportiva, mas como um exemplo de como o esporte pode transformar vidas e a própria sociedade.
Palmarí H. de Lucena