Polarização é uma das palavras mais usadas e mal-usadas nesta temporada eleitoral, patoá bombril de políticos e a mídia para descrever ou classificar diferenças políticas, mesmo quando são simplesmente binárias ou contraditórias. Falhando em realçar nitidamente diferenças entre seus programas, optando por demonizar adversários ou fortalecer pontos de vistas extremistas, fugindo de normas da retórica: de falar bem, de convencer e de ser eloquente, de orquestrar as palavras de um modo que o orador transmita ao ouvinte um sentido preciso, organizado, consistente e, consequentemente, convincente. O debate se há transformado em trocas de insultos, uso de inverdades e dos chamados “apitos de cães” à exemplo da mensagem contra a urna eletrônica, camuflada por frases como “consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado”, disseminadas nas redes sociais para atiçar descontentamento, gerar desconfiança sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Processo de polarização tem muitas similaridades em regiões e países distintos, democracias tão diferentes como na Colômbia, Quênia ou Polonia, são afetadas pelas mesmas causas, padrões ou vetores, particularmente preocupante é a influência desagregadora de líderes como Modi na Índia, Erdoğan na Turquia, Orbán na Hungria e Bolsonaro no Brasil, Eles têm inflamado e impregnado divisões profundas na sociedade, promovendo desafios radicais ao arcabouço institucional, complicando a convivência harmoniosa entre os três poderes, usando uma agenda de costumes para causar retrocessos dos direitos adquiridos por mulheres, minorias étnicas, populações excluídas e o combate a prática de racismo estrutural. Patronagem política, fisiologismo, nepotismo eleitoral, práticas decididamente antidemocráticas, fortaleceram grupos de partidos tradicionais, transformando o chorume destes arranjos como uma espécie de “abre-te, sésamo” das portas da democracia para políticos populistas e de comportamento autoritário.
Polarização causa danos irreparáveis a todas as instituições democráticas, subestimando a independência e capacidade do Judiciário de arbitrar conflitos, especialmente quando o primeiro mandatário ataca tribunais superiores e os acusa de serem predispostos a condená-lo ou quando preenche vagas no Pleno com magistrados de questionável temperamento judicial e independência. Potencializando impasses legislativos, relegando o Congresso a carimbador de decretos presidenciais, práticas que incentivam abuso do poder executivo e a imagem tóxica de tratamento preferencial aos anseios de seus partidários. Causando fissuras profundas nas normas de tolerância e moderação, como conceder pacificamente uma derrota eleitoral, que mantêm competição política dentro dos limites estabelecidos por uma sociedade democrática.
Agregadas, estas práticas impõem um fardo pesado a sociedade civil, demonizando ativistas e defensores de direitos humanos, aumentando crimes de ódio e violência política, ao mesmo tempo em que protagonistas se beneficiam amplamente das divisões e conflitos por eles criados. Cabe ao eleitorado mudar a trajetória da polarização da política brasileira, escolhendo candidatos que demonstrem fieldade ao estado democrático de direito, obediência as normas da Constituição e crença inquebrável no futuro do País. Chegou a hora de darmos um sonoro BASTA a políticos que nos dividem, reconstruirmos um Brasil como uma pátria democrática e solidária.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores