Seria inevitável que a pandemia do coronavírus não se metamorfoseasse em uma ardente batalha, na perene guerra de cultura. No entretanto, mais surpreendente é o fato de transformarem o uso de máscaras em pomo de discórdia de uma disputa insana, politizando uma medida sanitária e entorpecendo toda e qualquer possibilidade de convergência de atos de solidariedade, diante das vitimas da tragédia humana que se abruma. Principalmente inacreditável são questionamentos da masculinidade e do viés ideológico de pessoas usando máscaras, por fanáticos religiosos, supremacistas e extremistas políticos.
Recomendação da OMS e de governos nacionais do uso de máscaras em público, é possivelmente a mais inócua das medidas básicas de mitigação a proliferação de COVID-19; máscaras nem limitam o trabalho, nem impedem adoração ou separam famílias. Simplesmente tranquilizam outras pessoas que estamos nos comportando responsavelmente, enquanto damos um passo contra-intuitivo na direção a normalidade.
Desdém do Presidente Trump sobre o uso de máscaras, é evidenciado na caracterização da medida sanitária como um sinal de fragilidade ou do politicamente correto. Atitude vista com grande preocupação de governadores republicanos, comprometidos em evitar uma segunda onda de infecções e legisladores enfrentando dificuldades de reeleição em distritos eleitorais, que apoiam a medida preventiva. Para vários governadores, o uso de máscara não é um gesto político, é sobre ajudar outras pessoas.
Comentários de Donald Trump tratam máscaras como algo passível de ridículo, com postagens negativas sobre seu adversário democrata Joe Biden. Seu filho e chefe propagandista nas redes sociais, sugeriu que o democrata usa mascara como “uma focinheira para evitar que ele fungasse”. Estilo de ataques que estão fortalecendo apoio ao candidato, unindo o Partido Democrata em favor do uso de máscara, outras medidas preventivas e assistência continuada para vitimas da pandemia.
Como era de se esperar, a atitude negativa sobre o uso de máscara está sendo replicada no Brasil pelo Presidente Bolsonaro, que provoca aglomerações de populares sem exercer cuidados necessários para evitar contaminação ou proteger membros do governo. É conveniente alegar que seu porte de atleta serve como uma armadura contra o coronavírus, sugerindo que somente alguns devem proteger sua fragilidade por trás de uma máscara. O presidente segue esquecido que seu dever é liderar democraticamente, sem arriscar-se a cometer tolices humanas ou gestos vazios de falsa masculinidade.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores