Estrutura de um restaurante popular contrapondo-se à silhueta cinzenta, serras em mutação para um espetáculo de belos matizes da escala tonal dourada cobrindo a Borborema Potiguar, simplificando desafios topográficos e escondendo as poucas estrelas penduradas na imensidão do céu. Transitando pela estrada alguns carros, luzes distantes de pequenas casas bruxuleando no horizonte, aves à procura de refúgio das nuvens negras devorando impiedosamente a luminosidade do entardecer. Brilhando longe, bem longe, uma Lua Nova, a mãe de todas as mudanças e possibilidades …
Conversando animadamente, duas mulheres na penumbra da parte posterior do restaurante, perfis transformados em camafeus dourados. Enfatizando a materialidade de suas palavras, gestos de mãos bailando no espaço sem projetar ou pelo menos sugerir uma animação para a narrativa. Lugar simples sem nenhuma pretensão decorativa ou marco diferenciado na escala social ou comercial, seu terraço tinha o mais belo pôr do sol entre as cidades potiguares de São Bento da Serra e Monte das Gameleiras.
A pujança do sol nos guiou até uma placa na beira da estrada: Galinha da Serra. Asseverando uma posição de proeminência na vida gastronômica e na geografia turística da microrregião. Encontramos ali Dona Aparecida, conhecida por todos como Cida, o griô do Sitio de Cacimba de Cima. Narrou a saga de uma família de agricultores que se transformara em bem-sucedidos proprietários de uma marca lucrativa.
Tudo começara na tempestuosa visita de um engenheiro, procurava alguém que preparasse uma galinha de cabidela no estilo campestre. Após inúmeras recusas, Cida concordou. Demanda pelas iguarias produzidas na sua cozinha forçaram a expansão do pequeno negócio em um restaurante formal. Vendendo todos seus animais e bens de subsistência a família se autofinanciou à revelia dos temores de insucesso, da indiferença do poder público e das incertezas da economia. Triunfou, uma autêntica guerreira do povo brasileiro!
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores