Os rotores do helicóptero pararam. A porta da aeronave abriu. Três homens saíram. Vestidos com ternos escuros, gravatas sem atenção à moda. Passo preciso, postura ereta de militar. Auto-suficientes, porta-terno na mão. Movimentos e palavras curtas. Eficientes. Homens acostumados a entrar e sair de aeronaves. A fazer grandes coisas em espaços pequenos. Eram astronautas.
Esperamos os passageiros na zona segura, longe das hélices da aeronave. Heliporto de Manhattan. Os homens eram Wally Schirra, Donn F. Eisele e Walter Cunningham, tripulantes da nave Apollo 7. O comandante, Wally Schirra, apertou minha mão e apresentou os demais. Com o sorriso e jovialidade do astronauta, que o mundo conhecia como o rei das pegadinhas espaciais. A tripulação do Apolo 7, sob seu comando, ficou famosa pelos pequenos shows de televisão que faziam diariamente enquanto orbitavam a terra. Cheios de graçinhas, mostravam cartazes com mensagens humorísticas e educavam os telespectadores, com informações sobre o vôo e o espaço. Receberiam um Emmy especial por estas transmissões. Os acompanharia até o Carnegie Hall, local da apresentação do prêmio.
Na limusine, ambiente descontraído. Felizes e honrados em receber o prêmio. Conversa vai, conversa vem, o Brasil entrou no assunto. Creio que Wally Schirra, comentou que havia estado no Brasil. Adoro “f-e-i-j-o-a-d-a brasilieira”. Os demais também já haviam provado feijoada, no Brasil ou em restaurantes nos Estados Unidos. Conversamos sobre outros tópicos brasileiros, carnaval e Copacabana. Falamos da marchinha de carnaval feita em homenagem a Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço.
“… Gagarin, subiu, subiu. Foi até o espaço sideral, chegou perto da lua e sorriu, vou embora pro Brasil que o negocio é carnaval…”
Após traduzir a letra, risos. Nenhuma possibilidade de pensar em carnaval no espaço, muito menos em feijoada. Flutuando, com o metabolismo quase em zero. A história teria sido diferente, se Gagarin houvesse comido feijoada antes do seu vôo. Chegamos ao Carnegie Hall, na hora certa. Despedimos-nos. Aperto de mão firme, tapinha no ombro, o riso amplo de Wally Schirra, transformou-se rapidamente em uma gargalhada. Confidenciou com um suspiro, ah! f-e-i-j-o-a-d-a… Oh, boy!
Wally Schirra Jr converteu-se no quinto americano a viajar ao espaço, no dia 3 de outubro de 1962. Tinha então 39 anos de idade. Pela primeira vez na história, transmitiram uma mensagem ao vivo do espaço através do rádio e da televisão. Foi o único astronauta que participou em todos três programas espaciais, Mercury, Gemini e Apollo. Perguntaram sobre seus pensamentos quando o foguete Titan do Gemini 6 apresentou falha na ignição, antes de partir. Encarou o problema filosoficamente, lembrando que o modulo espacial, o foguete e tanques de combustível “… foram construídos pela oferta mais baixa…” da licitação do governo. Ajudou a resolver o problema. Era piloto, voou em direção à sua meta, como sempre.
Faleceu na Califórnia em 2007, após uma longa luta contra o câncer. Em um dos seus pronunciamentos, Wally Schirra falou, “… Deixei a terra três vezes. Não encontrei nenhum outro lugar para ir. Por favor, cuide da nave espacial Terra…”
Ao chegar a Brasília no dia 2 de agosto de 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin comentou: “A impressão que eu tenho é a de estar chegando a um planeta diferente”. Quem sabe, talvez tenha comido sua primeira feijoada no Rio de Janeiro, na Casa das Pedras do paraibano Drault Ernani.