Desfrutando o fim da tarde, pessoas sentadas às mesas dos cafés, caminhando pausadamente ou participando de alguma atividade na Plaza Mayor de Salamanca. Conversas em todos os dialetos, quebrando a monotonia do ruído irritante das rodinhas das malas dos transeuntes. Tudo se movendo, nada mudando. Localizamos uma mesa no nosso café favorito, Manor Cervantes, na área do Pavilhão Real. Visão privilegiada dentro do retângulo dourado construído em pedra de Villamayor. Cercado por arcos simétricos e funcionais, sobre os quais se apresentam três filas de varandas coroadas por uma balaustrada de pedra em pináculos. A praça é o centro do universo provincial. Castelhana em sua concepção e multiplicidade de usos: um mercado de ideias, lugar de divertimento ou cenário para a celebração de espetáculos.
Casal de turistas ingleses. Livro aberto na mesa, compartilhavam detalhes sobre a monumental estrutura, pausando ocasionalmente para observar nuances ou projeções causadas pelos últimos suspiros da luz solar. Repentinamente, apontaram em direção a um dos balcões. Jovem vestida de noiva, soberbamente em branco, contemplava a praça. Bela, efêmera, distante. Sonhos de uma noite de verão. Shakespeare em terras de Cervantes.
Recordamos ao nome Dolores Sierra, um truque perverso da mente. Mulher popularizada pelas rádios e difusoras dos anos 50. História triste de um lugar distante. Quem não se lembra dos versos da canção?
Nasceu em Salamanca Seu pai lavrador, veio a maioridade Pois quem nasce na roça Tem sempre a ilusão de viver na cidade
Três grupos de mulheres, concentradas no centro da praça, chamaram nossa atenção. Fantasiadas, alegres, festivas. Despedidas de solteira, ritual do verão espanhol. Noivas, noivas e mais noivas, sob a mirada feliz da mulher no balcão. Longe do destino das Dolores Sierra de hoje, vindas de terras estrangeiras, filhas das mães que choraram no dia de suas partidas…
As imagens das noivas de Salamanca nos levaram de volta a uma noite mágica no El Albaynzín, o bairro árabe de Granada. Descemos a colina da fortaleza do Alhambra, atravessando ruas estreitas e sinuosas. Casa com jardins granadinos, cornucópia de flores e fragrâncias. Sons distantes, guturais, de cantores de flamenco nas caves e bares. Gente jovem pelas ruas, estudantes de todas as partes do mundo.
Mulher montada em um jumento e seguida por um pelotão de companheiras. Vestidas em roupas púrpuras, usando perucas sintéticas da mesma cor. Canções alegres, cheias de picardia e bom humor. Alguém explicou: Despedida de solteira. Duas mulheres maduras tentavam acompanha-las inutilmente. Outros grupos aparecerem na rua. Trajes típicos, trajes modernos. Jovem energética comandava os movimentos de um deles, todas vestidas em trajes de malhar. Corriam até a próxima esquina, paravam, recomeçavam prontamente ao som do apito. Gincana de emoções pelas ruas mouriscas. As calçadas e os bares respondiam alegremente, longe das angústias, devaneios e solidões do cotidiano da crise econômica.
Jovem doutoranda brasileira vibra, vive a felicidade das noivas. Quando encontrar o homem da minha vida, quero despedir-me de solteira em Granada, revela com um suspiro de paixão antecipada. Vivemos seu momento. Consideramos possibilidades de realizar o evento pelas ruas da nossa cidade e por nossa Plaza Mayor tão esquecida, o Ponto de Cem Reis… Não chegamos a uma conclusão, só muitas gargalhadas…
Subimos a colina de volta ao hotel. A Fortaleza do Alhambra visível na noite clara, noite cheia de beleza, brisa e esperança, como as noivas do verão…