As mulheres nos libertarão

As mulheres nos libertarão

Cultura masculina é organizada por hierarquia, tendo no topo da pirâmide o que chamamos de macho alfa, podendo ser tóxica, problemática, inconsiderada e tribal, incrustada profundamente na resistência à mudança. Mentalidade de animal de carga é prevalente na política, mesmo homens de princípios derivam em direção ao centro de gravidade. Jair Bolsonaro ascendeu ao ápice do poder como ameaça real a ordem vigente, vendendo a imagem de macho alfa, trilhando os mesmos caminhos de tropeiros direitistas, tangendo intempestivamente uma tropa de animais indisciplinados. Em crises ou escândalos envolvendo o Presidente, auxiliares ou familiares, permanecem silenciosos sem criticar ou apresentar defesa crível das supostas ofensas, enquanto a polêmica estrebucha na grande mídia e redes sociais. Acendida a luz verde da impunidade, retomam a trilha, degustando triunfalmente no capinzal dos empoderados, como se nada houvesse acontecido.

Homens são imunes a fanfarronices e desvios éticos de políticos como Trump ou Bolsonaro, mesmo diante argumentos bem fundamentados sobre as consequências destes feitos, o fator primordial é a confirmação de possuírem a força e o poder de exercê-los com impunidade. Mitos crescem na imaginação e sistema de crenças masculinas, especialmente homens brancos sentindo-se ameaçados por qualquer decisão ou política pública, que possam tirá-los da zona de conforto garantida pelo gênero. Denúncias de assédio moral e sexual por funcionárias da Caixa Econômica, decisões de procuradoras sobre possíveis conflito de interesses e prevaricação de altas autoridades do Governo, liderança de mulheres indígenas e negras na luta contra o racismo e atuação da bancada feminina na CPI da Covid-19, são exemplos patentes da imparcialidade e coragem da mulher brasileira na luta pela igualdade, no pântano hostil do chauvinismo, misoginia e racismo sistêmico. 

O Presidente vê o Poder Judiciário como uma instituição do estado democrático, que deve ser enquadrada e submissa a interesses pessoais ou político-partidários. Ataques e desinformação nas redes sociais, aquiescência de magistrados de temperamento jurídico ambivalente aos interesses de mulheres e minorias, nomeações para o STF e tribunais superiores baseadas na preferência religiosa ou servidão de magistrados fidelizados, são parte de um pacote desestabilizador, que assegura a blindagem do Presidente. Seus seguidores quando acusados de incitar ou participar em atos antidemocráticos são beneficiados com liminares ou pedidos de vista, manobras também usadas para procrastinar decisões favoráveis a manutenção ou ampliação de direitos humanos a vitimas de exclusão social e preconceito.

A eleição presidencial, oferece uma oportunidade as mulheres de eleger candidatos comprometidos em despolitizar o Judiciário, Polícia Federal, desmilitarizar o serviço público, reverter o curso da corrida armamentista e garantias a escolha de mulheres, que representam 52,2% da população brasileira, para todas as vagas abertas nos tribunais superiores e órgãos de controle, até alcançarem paridade nos colegiados. Lembrando também, que a chamada PEC da Bengala, se aprovada, causaria a aposentadoria compulsória de quatro ministros do STF, com potencial de replicar o viés ultraconservador e orientação teocrática da maioria da Suprema Corte Americana. Voto livre é a arma cidadã mais poderosa e resistente à adversidade, devemos sacá-la da bainha antes que outros confundam porte de uma arma de fogo, como uma licença de assegurar permanecia no poder a revelia das instituições do estado democrático de direito.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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