Segundo uma matéria na Página Opinião do New York Times, a equipe médica do Hospital al-Nasser Khan Younis, localizado no sul de Gaza, tem feito esforços heroicos para salvar a vida de seus pacientes, incluindo dezenas de crianças, no entanto, os suprimentos de combustível, medicamentos e água estão quase esgotados, colocando em risco a continuidade dos cuidados médicos. Profissionais de saúde estão preocupados com a falta de combustível para manter as máquinas funcionando, especialmente as incubadoras onde bebês prematuros lutam pela vida.
A pausa temporária dos bombardeios israelenses permite um aumento da ajuda humanitária básica para a população de Gaza, que inclui alimentos, medicamentos, água potável e combustível. Essa ajuda é essencial para salvar vidas e garantir a saúde da população civil, especialmente das crianças. É importante que as organizações humanitárias possam continuar a levar esses suprimentos, mesmo em caso de reinício dos ataques.
A falta de combustível tem prejudicado a captação e tratamento de água, tornando 96% do abastecimento de Gaza inadequado para consumo humano. Essa situação, juntamente com deslocamentos forçados e superlotação em abrigos, aumenta o risco de surtos de doenças, especialmente em crianças desnutridas. Desde outubro, foram registrados mais de 71.000 casos de infecções respiratórias agudas e 22.000 casos de infecções diarreicas em crianças menores de 5 anos. Sem água limpa e combustível, os serviços sanitários não conseguem prestar cuidados médicos adequados e implementar medidas básicas de prevenção e controle de infecções.
Essa crise afetará não apenas os sobreviventes da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, mas também as futuras gerações. Estima-se que 50.000 mulheres grávidas em Gaza, das quais 5.500 devem dar à luz no próximo mês, não tenham acesso a serviços básicos de saúde pré-natal e nutrição adequada. Mulheres desnutridas enfrentam maior risco de complicações durante a gravidez e parto, além de terem maior probabilidade de terem filhos vulneráveis à desnutrição, doenças e morte. Estima-se que mais de 105.000 mães amamentando seus bebês também tenham dificuldade para se alimentar adequadamente.
A deterioração infantil, que é quando a saúde, o bem-estar ou o desenvolvimento de uma criança estão acontecendo de forma negativa, pode aumentar em quase 30% em Gaza. Cerca de 5.000 crianças podem sofrer danos mais graves, aumentando sua vulnerabilidade a infecções respiratórias e diarreia, colocando-as em risco de morte iminente. Os bombardeios israelenses interromperam os serviços essenciais de prevenção, triagem e tratamento da desnutrição para cerca de 340.000 crianças palestinas menores de 5 anos.
As crianças de Gaza já sofreram muito trauma e morte, com pelo menos 5.600 mortes infantis e quase 9.000 feridas devido a operações militares nas últimas sete semanas antes da pausa das hostilidades. É crucial garantir acesso humanitário sustentável e seguro para que a população civil possa receber ajuda humanitária. Atrasos nessa ajuda custarão vidas. Tanto Israel como o Hamas têm o poder e a responsabilidade de evitar que essa crise de nutrição se torne uma catástrofe para um milhão de crianças, em clara violação a convenções e tratados internacionais que formam a base legal para a proteção de crianças em situação de guerra. Dois errados não fazem um certo!
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores