Armadilhas do trabalho temporário
Trabalho temporário, também conhecido como “gig work”, tem sido popularizado na última década por plataformas como Uber, 99 e Farmácias, que classificam seus motoristas e entregadores como contratados independentes, evitando tratá-los como funcionários. Muitos trabalhadores em tempo integral, especialmente aqueles com salários baixos, foram motivados a migrar para trabalho temporário pela perspectiva de ter horários flexíveis e dirigir seus próprios carros ou motos para ganhar dinheiro, no entanto, muitos deles não estão cientes das desvantagens e armadilhas que podem acompanhar essa forma de trabalho.
Talvez a maior armadilha dessa modalidade laboral seja a falta de estabilidade financeira, o que dificulta que esses trabalhadores planejem seus orçamentos e despesas ao longo prazo, como financiamento de imóvel. Poucos têm acesso a benefícios como seguro saúde, férias remuneradas e plano de aposentadoria, o que pode levar a problemas financeiros e de saúde a longo prazo, além de não oferecer oportunidades de desenvolver habilidades e avançar na carreira. Isso significa que, apesar de ser uma solução temporária para o desemprego, esses trabalhadores podem se encontrar presos em empregos pouco remunerados e sem perspectivas de crescimento profissional.
Defensores da modalidade afirmam que a atração pela flexibilidade logo deu lugar a realidade de baixos salários e horários instáveis, embora as empresas afirmem que os salários dos motoristas ainda estão aumentando e que um número recorde de pessoas está dirigindo ou fazendo entregas em suas plataformas. Devido à pressão constante para produzir resultados, muitos adotam práticas pouco seguras e arriscadas no trânsito das grandes cidades. A preponderância de pacientes com lesões graves ou fatais, especialmente entre os entregadores, nas salas de emergência de hospitais, é um indicador importante dos riscos e insegurança inerentes ao trabalho de aplicativo.
Aumento da informalidade e do trabalho avulso no Brasil, devido às limitações do mercado do emprego formal, como aquele com carteira assinada, está forçando um aumento exponencial no número de trabalhadores de aplicativo. Como consequência há um retrocesso nas condições e garantias laborais e falta de responsabilidade social de empresas, optando por trabalhadores temporários ou de aplicativo, como forma de tornar-se mais competitivas, enquanto relegam pessoas na posição mais baixa da escala salarial a um futuro incerto e empobrecimento continuado. Apesar de uma nova lei garantindo proteções trabalhistas mínimas para esses trabalhadores, ainda há muito o que fazer para garantir que eles sejam tratados com justiça e dignidade.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores