Paredes, banheiros de metrôs e logradouros públicos nos Estados Unidos, na Europa ou mesmo no Brasil, deformadas com o mantra do emergente Brasileiro Feio: onde nóis chega, nóis bagunça. Deslizes comportamentais e a busca insistente de uma galhofada, justificados pelo culto da esculhambação, molecagem e completa perda do senso de ridículo. Ignoradas, deturpadas ou simplesmente anuladas pela superficialidade permissiva da cultura contemporânea, regras de coesão social sobrevivem à borda do precipício da involução social. Aparecer ou não aparecer? Eis a questão! – perguntaria o nosso Hamlet.
Pichações aleatórias em letras misteriosamente similar à caligrafia rúnica dos Vikings, propagando um toque de desordem sem contribuir minimamente para a valorização ou a preservação do patrimônio cultural. Poucas transmitem uma mensagem coerente ou um conceito digno de réplica. Povo invisível aparecendo nas trevas sem libertar-se do casulo da exclusão, existindo na segurança enganosa do anonimato. Infrações à ordem pública, políticos e as autoridades demandando providências sem aplicar as penalidades contra o vandalismo da coisa pública ou da propriedade privada, a nossa nova marca da decadência urbana.
Inércia governamental e criatividade unindo-se para criar uma nova forma de arte: o grafitismo ou a arte de rua. Romanceado e intelectualmente mais aceitável do que mera pichações, convertendo o Brasil no único país do mundo em que existe uma distinção legal entre as duas modalidades. Duas faces da mesma moeda, com valores diferentes, uma idolatrada e a outra ignorada. Hoje, a arte de rua brasileira gradualmente gentrificada é uma marca de exportação rivalizando com as obras de artistas convencionais, em preço e importância.
Gestos e sotaque exagerados, penduricalhos e frutas tropicais que ornamentavam a cabeça de Carmen Miranda foram criticados na época por serem parte do viés capitalista de Hollywood. Décadas depois, continuamos vendendo nossa cultura e imagem da mesma maneira. A diferença agora é que os estereótipos, outrora hollywoodianos, são produzidos na Visconde de Sapucaí, nos estúdios de TV e pela propaganda midiática enfatizando o hedonismo, hospitalidade e hilaridade do nosso povo. Derrières de mulheres brasileiras em outdoors, brochuras turísticas e em propaganda institucional, competindo lado-a-lado com severas advertências sobre turismo sexual e penalidades previstas para os infratores. O importante é aparecer?
Palmari H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores